23/01/2008


Após breve visita a blog alheio, apercebi-me de uma mania que tenho desde que vivo em Lisboa. Vá se lá saber porquê, os meus sítios favoritos para chorar são o Metro e os autocarros. Detesto dar explicações sobre o facto de ter os olhos vermelhos, a face inchada, o semblante carregado. E por isso choro ao pé dos anónimos, daqueles que, travados pelas regras da conveniência, naturalmente não me vão perguntar "porque raio estás tu a chorar". Sinto que, às vezes, um ou outro gostariam de saber o porquê das lágrimas, ou então limitam-se a achar que sou louca. Não me importo. Sou uma choradora anónima dos transportes públicos. E isso ninguém me pode tirar. A não ser que venha o senhor que confere o bom funcionamento dos títulos de transporte e me expulse do seu autocarro/carruagem, por eu estar a deprimir os senhores que vão para os seus trabalhos (também eles já deprimidos, só que não choram). Será que existe alguma cláusula que proíba o choro nos tranportes públicos? Isto porque, pelo menos nas linhas de comboio italianas, havia proibições para todos os gostos e feitios. Não se podia jogar a dinheiro, não se podia debruçar uma certa percentagem do corpo que desconheço sobre a janela, não se podia cuspir nas carruagens, bla bla bla. Entretanto, alguém dos transportes públicos portugueses pode ter-se lembrado de criar uma qualquer cláusula irrisória que proíba pessoas como eu de expressarem as suas angustias publicamente. Se esse dia chegar, será o meu fim.

Já quando era miúda, tinha o infeliz azar de acordar de almofada enxarcada e em pânico, porque pensava sempre que me perdia da minha mãe, ou que ela morria. Outras vezes ainda, o que era mais grave, deitava-me e desatava a chorar desalmadamente pelos mesmos motivos. Talvez por nunca ter conhecido o meu pai, tivesse este pânico de perder a minha progenitora, o meu único elo sanguíneo parental. Estupidamente, confirmaram-se os meus piores receios de adolescente chorosa e ela acabou mesmo por me deixar.

Hoje apetecia-me mesmo chorar por causa disso.

12 comentários:

Maria del Sol disse...

Lembras-te do nó na garganta que conseguiste provocar-me há uns tempos atrás, com o post intitulado "Memória"? O de agora é maior, porque conheço a razão.

Perante os factos só me resta dizer que os estranhos às vezes são melhor companhia que os conhecidos, porque não sentem obrigação de nada. A blogosfera é feita de estranhos que comunicam sem receio, graças ao anonimato. E de estranhos que admiras pela coragem com que se expõem através da escrita. É o teu caso.

Beijinhos.

pegueitrinquei disse...

Obrigada Maria. És uma querida. Adoro todos os meus "amigos" da blogosfera, os que conheço e os que não...* És um deles, sem dúvida!

P.S. - E agora já sabes o motivo...

Anónimo disse...

Mas agora tens-me a mim pa aturar!ehehe!=P

Isso dos transportes públicos...desde que não proíbam o sexo...ups!...já proíbiram né?...porra...
Chores onde chorares o que importa é que chores! Deitar ca para fora tudo! Quando secar o poço acaba-se a choradeira e de alguma forma senti-mos um pequeno alívio. As lágrimas são melhores que o Benuron!=P
Olha eu, por exemplo! Granda macho e ultimamente só choro. poucos dias passam sem que me caia uma lágrima ou outra...sinto-me um maricas, mas por outro lado sabe bem.
Gosto que me abracem enquanto choro...e por isso chorar ao pé dum amigo não me chateia.
Às vezes só preciso é chorar para aliviar a dor...
Já só tou a dizer macaquices...mas sem dúvida que chorar faz bem!

bj*

Ema disse...

chorar é o melhor remédio às vezes, seja para o que for. chora, chora, chora. até não poderes mais. deixa só umas lágrimas, para quando precisares outra vez.
às vezes é a única maneira de comunicar sem falar, é o que nos une ao que vai cá dentro, quando de outro modo não sai cá para fora.

Cláudia Sampaio disse...

credo, somos mesmo homónimas! Também não conheço o meu pai... e também choro no metro, o único meio de transporte que uso. Mas gostava de me conseguir controlar...

Anónimo disse...

as vezes que já chorei no comboio são inúmeras... e concordo com todos os q comentaram antes d mim: chorar faz bem e recomenda-se.

Francisco disse...

que engraçado, pensei exactamente o mesmo que a maria, nó na garganta. este post está muito bonito.

Menphis disse...

Quero-te agradecer por um dia teres descoberto o meu blog.

É que assim não era capaz de conhecer o teu, e não iria ter esta sensação que me passaste ao ler o teu post.

Nó na garganta, sem dúvida, imaginando o que deves ter passado, mas uma indomável vontade de te dizer que chorar é tão importante como rir, e que faz sempre bem deixar cair uma lágrima silenciosamente.

pegueitrinquei disse...

Bem, parece que a expressão "nó na garganta" está a ganhar terreno neste meu cantinho da blogo!

Achei engraçado com este post descobrir que muitas outras pessoas andam, tal como eu, a chorar nos transportes públicos. É de facto tão ou mais importante como rir.

Ji disse...

Quando precisares, posso.te alugar o meu quarto! Prometo que não te incomodo e ninguem te fará qualquer pergunta! E digo.te mais, sabe tão bem chorar neste pequeno compartimento...

Kiss kiss bang bang

Anónimo disse...

eu não sou chorona, mas compreendo-te perfeitamente. e como li num comentário acima, é muito mais fácil desabafar com "estranhos" (=gente com quem não nos cruzamos no dia a dia), do que com a família e os amigos. e é claro, todos os momentos de fraqueza são indispensáveis para edificar a nossa muralha (olha que a minha é bem sólida, mas com algumas brechas aqui e acolá!!)

Anónimo disse...

este compreendo também se refere às saudades da "nossa" mãe...