30/05/2008

Descubra as diferenças

O Menphis ainda não autorizou (roubei-lhe não só os textos, mas também a imagem), mas eu não resisti a citar os dois autores que se seguem, os quais separados por cerca de um século, decalcam na perfeição aquela que foi, é e continuará a ser a nossa triste realidade.

Porque na sociedade portuguesa actual, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições e os homens supostos deterem e dispensarem o poder-saber não foram ainda quebrados por novas forças de expressão e liberdade.Numa palavra, o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo. É o medo que impede a crítica. Vivemos numa sociedade sem espírito crítico – que só nasce quando os interesses da comunidade prevalecem sobre o dos grupos e das pessoas privadas.

Parágrafo de José Gil na mediática obra Portugal Hoje, o Medo de Existir, neste início de século. Já no início do século passado, repito, século passado, escrevia o mestre Fernando Pessoa:

Tão regrada, regular e organizada é a vida social portuguesa que mais parece que somos um exército do que uma nação de gente com existências individuais. Nunca o português tem uma acção sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo. Está sempre à espera dos outros para tudo. E quando por milagre de desnacionalização temporária pratica a traição à Pátria de ter um gesto, um pensamento ou um sentimento independente, a sua audácia nunca é completa porque não tira os olhos dos outros, nem a sua atenção das suas criticas.


É preciso dizer mais alguma coisa?

Este filme não é para velhos

E já vos oiço murmurar Lá vem esta com a mania que é cinéfila, como se percebesse alguma coisa disto. Mas não resisto e pronto.

Não é o filme do ano, não é memorável, não é nenhuma obra-prima. É um filme simples e inclusivé, algo previsível. Mas tem um brilho extraordinário, conferido pela excelente dupla de actores principais: Jack Nicholson&Morgan Freeman.

Os primeiros minutos de filme, passei-os sempre de nó na garganta. Passam-se inteiramente no hospital, e a temática é sempre a morte prevista. Find the joy in your life, a frase que dá mote ao filme. De resto, pouco há a acrescentar. Pouco ênfase na banda sonora, cenicamente pobre e, impossível não referir, peca pela previsibilidade. Nem do poster gosto, paupérrimo, até no blog fica mal. De resto, é um filme fresco, ideal para um final de tarde em boa companhia.

Última nota ainda: tendo em conta que é a excelente dupla de actores que salva o filme, imaginem-no protagonizado por Steve Martin&Walter Matthau... Seria a catástrofe do ano!

Éramos felizes e não sabíamos...

... imbuídos de uma plenitude que só a forçada inocência da idade podia permitir. Convencidos de o mundo seria fácil de conquistar. À distância de um mero telefone, de um mail, de um click. Convenci-me de que o regresso a casa seria o começar de uma fase inédita das nossas vidas, desejada anos a fio no meio das noites salgadas de lágrimas. E a inocência que me tolhia a visão da felicidade, era a mesma que cobria a realidade de uma crueza baça contra a qual eu nada podia fazer.

Mas havia sempre algo que faltava. Nunca estava tudo completo. Nunca está. E ninguém nos avisou que a felicidade era apenas aquela plenitude insatisfeita. Aquela sede do algo incompleto, do que faltava. Só o avançar dos dias, meses, anos, trouxe o discernimento sobre aquela felicidade que partilhámos. Nós os 3, finalmente só os 3, depois de uma longa espera de 13 anos. Hoje olho para trás e vejo que a felicidade era afinal tão simples, tão tangível. E sim, estava a uma distância muito pequena. Um telefonema chegava. Um prato quente de comida na mesa. A roupa impecavelmente engomada em cima da cama. O cheiro a café e torradas inesperadas pela manhã.

E depois, a morte. Para quem espera 13 anos pela felicidade, a morte é a antítese por excelência do ouro no fim do arco-íris. Arco-íris esse cujos tons acinzentadas faziam prever alguma cor, alguma recompensa por tão longa espera. Mas não. No fim do arco-íris estava a morte, o revés caprichoso da vida, o desfecho mais improvável.

Se hoje sou feliz? Não sei. Talvez sim. Talvez não. Muito provavelmente só o saberei daqui a um ou dois anos. E nessa altura, falamos.

29/05/2008

A mulher forreta e altruísta que há em mim

É inevitável... está toda a gente à beira da loucura com a subida dos preços do combustível. Não se fala noutra coisa. E para não dizerem que eu sou mazinha e que este blog nada de útil tem para oferecer à sociedade, aqui fica a minha oferta. Um site onde encontram os postos de abastecimento onde se devem tornar habitués e os postos a evitar. Vão ficar super hype, e ainda poupam uns cêntimos, trust me!

Preciso de um. Ou de cinco!!!

28/05/2008

Primeiro estranha-se, depois entranha-se

A Taschen tem disponíveis no seu site dois livros muito interessantes. A meu ver, bem sintomáticos da cultura de massas em que hoje vivemos, produtos claros da pulsante aldeia global. Ora vejam:


The Big Book of Breasts, descrito como The supreme worship of the natural bosom. A completar o ramalhete, temos ainda:



The Big Penis Book, ou ainda The fascinating phallus: undressed to impress.


Muito provavelmente, estou apenas profundamente entediada para estar a postar sobre estes assuntos. Mas deixo um cheirinho do que por lá se pode encontrar. Check it out, girls...

Também fiquei no mínimo surpreendida nos primeiros segundos. Mas vá, já chega de queixo caído...!!!
O que o acordou foi o silêncio. Primeiro, o do despertador que não tocou à hora combinada todas as manhãs. Depois, o de outra respiração, que devia ouvir e não ouvia. Estendeu a mão para o quente do outro lado da cama e encontrou o frio. Apalpou e encontrou vazio. Então, sim, despertou completamente.

Miguel Sousa Tavares, Não te deixarei morrer, David Crockett

E pensou no quão diferentes as coisas poderiam ser. Atormentavam-lhe os pensamentos, os vestígios do cheiro dela. AMOR ÓDIO AMOR ÓDIO AMOR ÓDIO. Era assim a promiscua relação que partilhava com o corpo dela. Ora atracção, ora repulsão. O corpo dela fazia-o pensar em arroz doce. No arroz doce que a avó fazia e em cujo tacho ele lambuzava dedos, mãos, cara. Que disparate, arroz doce. Uma mulher comparada a arroz doce. Atina, Miguel!

Pensou como seria se não a expulsasse da sua cama enorme, após cada sessão fotográfica, seguida de jantar, seguida de sexo, seguida de vazio. Conhecia-lhe cada curva de cor, cada poro, cada rugosidade da pele. E no entanto, sentia-se um estranho sempre que ocupava o corpo dela. Não estava de todo preparado para a cumplicidade. Muito menos com o corpo daquela mulher, que amava e odiava.

Pensava nela, tentando esquecer que ela era mais do que um corpo feminino. Tinha ideias fortes, personalidade intensa, objectivos rígidos. E isso atraía-o, ao mesmo tempo que o fazia sentir-se diminuído. Onde é que já se viu, uma mulher destas ocupar o meu espaço. Não, não podia nem devia ser assim. Queria uma mulher submissa, uma mulher que fizesse figura de corpo presente, que não questionasse nem se impusesse. Era machista e - pior - assumia-o sem complexos.

E aquele corpo viera agudizar ainda mais esse sintoma de macho que cultivava em si desde tenra idade. Quanto mais a tinha, mas a queria repudiar, mais a queria agarrar, mais lhe queria bater, mais a queria possuir, mais a queria afastar, mais a queria consumir. Enchia-lhe o estúdio de uma teimosa névoa de tabaco, indiferente aos avisos dele. Com atenção, podia-se encontrar um ou outro cabelo dela espalhado pelo chão. Uma collant esquecida, um resto de baton no lençol. De dia para dia, ia marcando o seu território, na mesma medida em que o território dele se esbatia, pressionado pela força que ela emanava a cada investida nocturna.

Assim se arrastavam, desconhecidos na cumplicidade, cumplices no AMOR ÓDIO que os unia e separava.


#Imagem:
Nuno Bernardo

26/05/2008

Big Brother ou a promoção da acefalia

Estamos a viver num mundo onde ninguém é livre, no qual dificilmente alguém está seguro, sendo quase impossível ser honesto e permanecer vivo.

George Orwell, The Road to Wigan Pier


Já em 1948, George Orwell previa os absurdos que chegariam nesta era Big Brother em que hoje vivemos. Na concepção de Orwell, a Oceania é regida pelo dito Big Brother, ditador totalitário que quer fazer crer aos cidadãos que estes vivem em democracia. Como em qualquer regime totalitário, tudo o que o cidadão pensa ou faz tem que ir de encontro à linha de pensamento do Partido. Caso contrário, se se pensasse diferente, cometia-se crimidéia (crime de ideia) e a Polícia do Pensamento capturava e vaporizava a pessoa em questão. Desaparecia.

Esta redução do pensamento e da opinião infelizmente acontece ainda hoje, nas democracias em que vivemos. Acontece desde as entidades privadas aos organismos públicos. Quem cometa o erro de se pronunciar contra algo que é promovido pela instituição onde se insira, pode muito simplesmente ser alvo de ostracismo, exclusão explícita ou implícita ou, na pior das hipóteses, a expulsão definitiva.

Tanto que podia dizer sobre o assunto.











Mas não se pode,
Big Brother is watching!

24/05/2008


Não foi bem o que imaginava. Mas vale a pena a visita.

23/05/2008

Is there something wrong with me?!

Mas porque raio deciciu a blogosfera EM PESO idolatrar este filme? E dizer que é lindo e faz chorar as pedras da calçada, bla bla bla?!

Achei tão básicozinho, tão indiezinho de trazer por casa, banda sonora tão repetitivazinha, enfim... um filmezinho!

Não sou cinéfila. Pseudo, talvez. Se estou a dizer barbaridades, perdoem-me os entendidos na matéria.

É provavelmente mais um acesso hormonal, nada mais.

Feios Porcos e Maus

Num primeiro passeio por aqui, fui dar com este pequeno apontamento do Miguel Esteves Cardoso, e reza assim:

Os homens são brutos e insensíveis. Matam mais criancinhas, portam-se pior à mesa, cospem e coçam-se mais. Os homems - e sobretudo os homens que gostam de mulheres - são menos inteligente, menos delicados e menos civilizados que as mulheres. A única coisa que têm a favor deles, à parte certas características discutíveis, como serem menos histéricos, é as mulheres gostarem deles. Por que é que a mulheres gostam dos homens? Como lésbica que sou nunca entendi.

Para variar, MEC tem toda a razão. E só mesmo um homem como ele, que não é especialmente atraente (vá, convenhamos, é feio mesmo), tem legitimidade e isenção na afirmação que faz. Gosto quando sublinha o facto de que são sobretudo os hetero que correspondem à descrição. Porque, exceptuando o facto de os homo serem, regra geral, mais histéricos do que nós, em tudo o resto são um amor. Têm melhores maneiras, são mais delicados, têm gosto para moda e para música. Vêm connosco às compras e é uma festa. E podemos sempre comentar com eles aquele rabo fantástico que acabou de passar.

Quanto aos hetero, não quero generalizar e muito menos ferir susceptibilidades aos homens que conheço. E felizmente, conheço poucos que sejam mesmo brutos e insensíveis à séria. Muito menos que matem criancinhas. Alguns, convenhamos, portam-se mal à mesa, cospem e coçam-se. E definitly, outros são mesmo menos delicados (ainda bem!) e menos civilizados que as mulheres.

Não querendo de maneira alguma criar um texto estereotipado (mas já o fazendo), acho que o homem ideal seria mesmo um gajo que reunisse o melhor dos hetero e dos homo. E nem precisava de vir comigo às compras, que lá isso eu faço bem sozinha. Mas podia/devia saber fazer coisas como ir ao Pingo Doce sozinho, comprar-me uns Evaxs sozinho sem entrar em pânico. Mudar as fraldas ao puto sem se esquecer do pó de talco no fim. And so on, uma vez que a lista é quase interminável.

A quem esta reflexão tenha parecido sem nexo algum, cabe informar que estou em fase hormonal, a.k.a TPM.

E tenho dito.

21/05/2008


Eia a conversa de que me lembrei hoje:

Então, que fazes logo?

Ainda não sei, e tu?

Vou beber café com a minha futura namorada.

(risos) Ai sim? E ela sabe?

Ainda não, vou convidá-la agora: h4rdDrunk3r, queres vir comigo beber um café logo à noite?

#?%&?/@€?!?!?!?

Estou com vontade de vê-los hoje no Lux. Diz que é "música gordurosa". Juro!, vi aqui! Ainda por cima, abordam Justice e Soulwax, sonoridades que adooooooooro. Parece que vai haver zing zing ziiingggggg...

20/05/2008

E agora, o Sistema Nacional de Saúde!!!

Desde 5ª feira à noite que estou doente. Daquelas constipações que nos agarram à cama durante 5 ou 6 dias. Como fiquei sem médico de família após a transferência de centro de saúde, tenho duas opções: ou vou para o médico às 8h da manhã para tentar (sim, tentar, porque não é garantido) uma consulta do reforço, ou vou entre as 18h e as 22h. Naturalmente, opto sempre por ir à noite. Porque há muito menos gente, e não tenho que ir às 8h, regressar a casa e fazer tempo e voltar lá para as 11h, quando o senhor doutor se lembrar de me atender.

Até à passada 6ª feira, o médico que me atendia passava-me sempre uma declaração para apresentar no trabalho. Estando doente, é o mais natural. Mas desta vez não. O senhor doutor lembra-se de me dizer que está afixado algures que isso é proibido. Contraponho, dizendo que sempre o fiz, mas não, ele diz que é proibido. Volte cá na 2ª às 8h, que lhe passam isso no reforço...

Temos um lindo SNS, sim senhor. Para além de me fazer pagar a merda das taxas moderadoras duas vezes (sim, que eu não sou isenta, não tenho caixas nem ADSE's nem o diabo a sete), ainda se sobrecarregam a eles próprios, ao obrigarem-me a lá voltar, a pedir consulta de reforço, a encher as já de si cheias filas para o médico, bla bla bla. Pobres das velhinhas cheias de reumático, que vão para lá fazer a conversinha do costume com o médico de família, a levarem comigo, toda ranhosa e insuportavelmente rabujenta, a roubar-lhes a vez! Que horror!

E pronto, não tive outro remédio senão voltar na 2ª feira. Para pedinchar um lugarzinho no reforço. Por acaso continuava doente. Caso contrário, faria a ridícula figura de voltar apenas para pedir o papelinho, e se o médico desse dia decidisse estar mal disposto, às tantas nem mo passava. E lá fui eu, ficar durante meia hora no consultório com a senhora doutora. 5 minutos para me auscultar o peito, outros 25 para ficar a olhar para o monitor, a fazer não sei bem o quê, enquanto eu desfalecia.

A sério, que mal fiz eu...

Meritocracia - s.f. Sistema (p. ex., educacional ou administrativo) em que os mais dotados ou aptos são escolhidos e promovidos conforme seus progressos e consecuções; sistema onde o mérito pessoal determina a hierarquia.


Muito bonita, a língua portuguesa. Muito mesmo, até me emociona. Ainda mais depois da lavagem cerebral a que fui submetida nos últimos 4 anos e em que nos querem fazer crer na meritocracia. Um mito muito bem construído pela democracia. No qual ainda tive a boa fé de tentar acreditar. Eu tentei, juro que tentei. Mas o mito cai por terra, quando vou à Câmara Municipal da Lourinhã, e vejo gerações, pais e filhos, trabalhando lado a lado, numa linda moldura familiar. Ou o filho do médico x e do empresário y. É a sucessão familiar no seu estado mais puro, como se de uma monarquia se tratasse.


O mesmo sucede na reputadíssima faculdade que frequentei. Abre concurso público para a minha área de licenciatura e, surpresa das surpresas, é colocada nessa mesmíssima vaga uma ex-aluna que lá ficou a estagiar logo após a conclusão da licenciatura.


Colégio da Europa: Abrem 4 vagas para alunos bolseiros. Numa instituição prestigiada como é o dito Colégio, seria de se esperar uma ainda maior isenção e, claro está, aplicação da meritocracia, dando crédito às notas dos alunos a concurso. Coincidência das coincidências, um dos candidatos a concurso foi estagiário/colaborador de um dos entrevistadores. A média do candidato a curso andaria à volta dos 15 valores, no máximo 16. E de certeza absoluta que entre os restantes candidatos, muitos deles teriam médias bem superiores. Mas, surpresa das surpresas, é o dito aluno com a média de 15 um dos privilegiados com a vaga num dos colégios mais caros da Europa.


Uma das Embaixadas de Portugal algures no Velho Continente, com mais um estagiário: Gostamos muito de si, mas de momento os recursos orçamentais são escassos. Para o mantermos cá, terá que ficar até Outubro sem remuneração, altura em que seria "seleccionado" num concurso público. E esta, hein? Ele naturalmente não ficou, porque viver numa das capitais mais caras da Europa sem ganhar um tusto não é para qualquer um.


Pergunto-me eu, porque raio ando a gastar dinheiro em selos, envelopes, fotocópias e afins, na vã esperança de conseguir um cargo numa instituição pública, quando é o Factor C que dita as regras no nosso país!?


Não tendo Albuquerque, Amorim ou Vasconcelos no nome, fica difícil convencer algum empregador deste país a olhar sequer para o meu currículo.


Outra situação que acho intolerável são as condições para estágios no PEPAL. Para quem desconheça, decorrem na administração pública e aufere-se qualquer coisa como 2 salários mínimos nacionais. O que é extremamente injusto para pessoas na minha situação. Quem lê o blog sabe perfeitamente que a minha mãe faleceu. Nessa condição, tive que de imediato começar a trabalhar, caso contrário neste preciso momento já teria morrido de fome... Isto em português, dá qualquer coisa como: uma vez que tive que começar a trabalhar (para sobreviver!), não posso disfrutar dos prestigiadíssimos estágios do PEPAL, hipotéticas portas de entrada para o mercado de trabalho na minha área. Desculpem lá, Sr. Presidente da República e Sr. Primeiro-Ministro, se o Estado Social neste país é um mito, se para não morrer de fome, tenho que trabalhar, e se por já trabalhar, não posso fazer os vossos estágios! Sim, porque para se concorrer, é necessária uma declaração do IEFP, da Segurança Social e das Finanças onde se comprove irrevogavelmente que não se está a trabalhar.


Apetece-me tanto pedir-lhes que metam os estágios no cú!

15/05/2008

"You're a part-time lover and a full-time friend"


Ontem, finalmente!

Tantos pontos a favor que nem sei por onde começar. Ensaiemos então uma espécie de triagem.

Banda sonora: intocável. Todas as músicas perfeitamente adequadas aos momentos, versos simplesmente adoráveis, e ainda a soberba frase que redefine todo o conceito de amizade colorida: You're a part-time lover and a full-time friend - caso saibam de quem é a música, deixem-no nos comentários!

Argumento, indescritível. Os comentários de Juno são surreais, de um sarcasmo incomparável, que venero. Humor também não falta. Adoro a cena de ciúmes que Juno faz ao pseudo-namorado-e-pai-da-criança, em que a miúda de quem Juno tem ciúmes é descrita como "cheirando a sopa". Ela e toda a sua casa.

Cenários, o mais kitsh possível, tanta as casinhas da classe média baixa, como as mais abastadas.
De louvar o facto de ser um filme que tem tanto de impossível como de real. Desde a família disfuncional de Juno - não via algo do género desde Uma família à beira de um ataque de nervos - à hot cheerleader que tem uma tara por professores nada atraentes.

Tinha tudo para ser um típico teen movie, mas felizmente resultou em algo bem atípico e mais real do que os filmes de adolescentes americanos.
A única incongruência, a meu ver, é o facto de Juno se interessar por um miúdo que, não obstante o facto de ser muito bom aluno, atlético, etc etc, não tem grande conteúdo. Personagem algo pobre, que pouco jus faz ao ego de Juno.

De resto, recomenda-se!


14/05/2008

O que têm em comum José Saramago, Fernando Meirelles e Gabriel Garcia Bernal?


Vão ser dos nomes mais falados desta noite, na abertura do Festival de Cinema de Cannes. Como se não bastasse o filme ser inspirado num dos meus livros favoritos, é tambem realizado pelo responsável por Cidade de Deus e O Fiel Jardineiro, obras que dispensam qualquer apresentação. E claro, a fechar com chave de ouro, Bernal. Não podia ser mais perfeito.

Espero apenas que não suceda o habitual neste tipo de adaptações, em que a tela fica muito aquém da página. Mas com o elenco e equipa em questão, acho difícil. Só espero que o filme faça referência explícita ao PORTUGUÊS Saramago, e que os espanhóis não venham em bicos de pés dizer que o Saramago isto e aqueloutro, que é mais espanhol que português, e que lhes cabem a eles os créditos do filme... - sim, reconheço que o Iberismo de Saramago é algo de dramaticamente exacerbado, mas isso não dá direito a nuestros hermanos de quereram ficar com ele!

Para saber mais sobre o filme, nada como consultar o blog de Meirelles sobre o mesmo.

P.S. - E não sejam preguiçosos, leiam o Ensaio sobre a Cegueira antes de verem o filme. Depois não digam que eu não avisei...

Butterfly effect...


... ou a mania de gostar de borboletas na barriga...

13/05/2008

Mother's Day Secrets

Penso nisso recorrentemente. Como quando quis levá-la a Roma, e ela disse leva o mano.









E acabei por não levá-la a lado nenhum...




#: Post Secret
Expectativas em alta! Parece que desta é que é. E como disse a Ema,
GO BOOOOOYS!!!!!

09/05/2008

Ele avisou-me...

... que as pessoas iam ficar mais simpáticas. Que parvoíce, disse eu. E não é que ficaram mesmo? E não é que isso me irrita?




p.s.- Eu sei, a foto é horrível e de péssimo gosto. Por isso mesmo não resisti a deixar esta pérola, a aterrorizar os vossos pensamentos no fim-de-semana. I'm a bitch!

p.s.2 - E não, eu não era em NADA parecida com a bardajona da foto! DASS!

World Press Photo 2008

Balazs Gardi, Hungary

A man holds a wounded boy in front of a house in the village of Yaka China, in the Korengal Valley in north-eastern Afghanistan. The boy received shrapnel wounds from a rocket during a US air strike
on a suspected insurgent position in the village. After the strike, which villagers said killed and wounded a number of civilians, elders declared jihad on American forces in the valley.


Inaugura esta noite mais uma edição do World Press Photo. Está patente no Museu da Electricidade e pode ser vista até ao dia 8 de Junho.


É uma exposição ímpar. E impressionante é o facto de meia dúzia de imagens (vá, são 185) conseguirem com que me lembre da minha pequenez e impotência perante os acontecimentos que se dão neste imenso mundo. Por isso vá, mexam o rabinho desse sofá, larguem o computador e vão até lá.


Porque o mundo não gira à volta do nosso umbigo.

07/05/2008

O arroz ia girando na panela, sempre no mesmo sentido, à medida que ele o ia remexendo, paxorrento e distraído. Enquanto o fazia pensava nela. Em como o peito dela se insinuava sob a caxemira quase transparente com que chegara a casa nesse dia. Passavam-lhe números pela cabeça, facturas e clientes, o arroz ia girando na panela, o peito dela a insinuar-se na caxemira.

Sabia o quanto ela apreciava os finais de tarde a sós na varanda, nos quais se fazia acompanhar pelo martini que ele lhe preparava ainda antes dela chegar a casa. Sentia-lhe os passos nas escadas, o perfume no corredor, e logo a azeitona caia fundo no copo, seguida do líquido que ela adorava. E mesmo por saber o quanto ela apreciava esses momentos, mais tentado se sentia a percorrer o caminho que separava a cozinha da varanda. E a apertar-lhe o peito por debaixo da camisa de caxemira. E a tomá-la contra a parede.

Percorreu esse espaço a medo, tomou-lhe o copo da mão, pousou-o no chão com a delicadeza de gestos que lhe era característica, e tocou a caxemira. Logo debaixo da caxemira, o peito dela, sinuoso, insinuante, firme. Prendeu-a entre a parede e o seu próprio corpo. E teve-a, sem pensar nos vizinhos que a qualquer momento podiam surgir na varanda mesmo ao lado. Ou nos filhos, que a qualquer momento chegariam para jantar.

Do arroz, só se lembrou quando sentiu o cheiro a queimado.

06/05/2008

E tudo porque hoje senti saudades de Viena...

Alma Schindler foi das personalidades mais intensas e curiosas da elite vienense do início do século passado, e uma das mulheres da história que mais me intrigam. Para além de pintora e escritora, Alma era ainda uma mulher extremamente inteligente e de uma beleza que inspirava a inveja feminina e os desejos masculinos. De tal maneira, que foi musa de Gustav Klimt (a quem ofereceu o primeiro beijo) e Gustav Mahler, tendo-se envolvido também com Alexander von Zemlinsky, Walter Gropius e Franz Werfel.

De Mahler, recebeu o Adagietto da 5ª Sinfonia, prova de amor irrefutável pela beleza da composição. Já Oskar Kokoschka representou-a consigo na tela várias vezes, de que é exemplo a Noiva do Vento. Sem contar com as cartas de amor de Gropius e os manuscritos de Werfel.


Uma mulher que frequentou o Café Central (suspiro...), que passou por Lisboa fugida aos nazis e que passou os últimos dias em Nova Iorque.


Uma mulher que passou a vida rodeada por homens excepcionais, desde poetas, arquitectos, romancistas e artistas plásticos. É impossível deixar de admirá-la e invejá-la, mesmo decorrido quase meio século desde a sua morte.


E tudo porque hoje senti saudades de Viena...

Noiva do Vento, Oskar Kokoschka


Já tenho bilhetes!! :) Estou tão feeeeeliiiiizzzzz!!!

05/05/2008

És gay!? Que horroooooor!


Acho impressionante, descabido e repugnante, que ainda exista este tipo de hipocrisia no nosso país. Aparentemente, cerca de 70% da esclarecida população portuguesa ainda desaprova as relações homossexuais. E eu pergunto-me, COMO?! Acho ridículo e retrógrado as pessoas criarem juízos de valor baseado-se para isso na opção sexual da pessoal X ou Y. É que simplesmente não cabe na cabeça de ninguém. O que mais me surpreende, é haver uma distinção, ainda que mínima, no que toca à aceitação das relações homossexuais femininas e masculinas, sendo as primeiras melhores aceites. Quer isto dizer, homem com homem ai valha-nos Deus e os santos todos, que horror!, mas ver duas gajas bem boas a trocarem amassos a torto e a direito já pode ser, porque é giro, e excitante!

Outro aspecto surpreendente é o facto de, mesmo entre as camadas mais jovens, os valores da homofobia serem gritantes. O estudo mostra, e bem, que é por estas e por outras que ainda estamos na cauda da Europa. Basta comparar-nos com França, onde 80% dos jovens nada encontram de errado nas relações do mesmo sexo.

Tendo alguns amigos gays e sendo frequentadora de alguns sítios gay friendly, tinha a estúpida ilusão de que este estigma estava minimamente ultrapassado, não podendo por isso deixar de manifestar a minha indignação e vergonha perante estes números.

Repugnante.

Banksy está imparável. Dando bom uso ao enorme destaque que tem tido enquanto artista urbano, organizou um evento, “The Cans Festival - A Street Party of Stencil Art, para o qual convocou writers de todo o mundo a mostrarem o seu trabalho, num túnel ferroviário em Londres.


Alheia aos motivos que o levaram a promover tal evento, fica a certeza de que organizações deste género vêm dismistificar a street art, estigmatizada muitas vezes como puro vandalismo e destruição gratuita. Aliás, como afirmou Banksy ao The Times, O graffiti não estraga sempre os edifícios. Na verdade, é a única maneira de melhorar o aspecto de muitos deles.


O evento decorreu este fim-de-semana e terminou hoje. Resta agora conferir o resultado, que sem dúvida alguma deverá ter sido excelente.


Mais em Público

04/05/2008



Hoje seria o dia Dela. O dia em que me pediria para ficar com ela, e eu não teria tempo. Porque tinha que ir à praia, porque tinha que ir às compras, ou ir ter com alguém. Em que provavelmente jantaria qualquer coisa à pressa com ela por ter algo mais "importante" para fazer.


Irónico, como a importância passa a ser algo de completamente relativo quando perdemos quem amamos.


Para muitos, é mais um Dia da Mãe, mais um dia no calendário dos dias temáticos. Cá dentro, é um dia de arrependimento. E um dia em que as saudades crescem mais um bocadinho.





E a música que ela estava a aprender... e que eu amo*