31/05/2009


Subiu a Calçada de Carriche, passava a mão pelos estofos, pelo vestido, pela perna, o peito... Portishead e ficava fora de si ...give me a reason to love you... e sentir cada vez mais o calor tomar conta de si. Dançou por ele, a pensar nele. No Eixo N-S, o inesperado. O telefona que toca. Do outro lado, uma voz masculina ditar-lhe-ia o destino para essa noite. Esta noite ficas comigo. Toda ela estremeceu. Ela estava quente, a noite estava quente, Lisboa estava quente. Um incêndio profuso e prestes a contagiá-lo a ele também. Em breve, dançaria give me a reason to be a woman só para ele, à media luz, já semi-nua. Consumar-se-iam e consumir-se-iam.





Amo-te, pensou.

22/05/2009

O fim é sempre um presente que surge, um começo a sós para o mundo, tingindo a tela aguada pela madrugadora vontade de despertar. Urge rendido ao cansaço, o meu peito de tanto te chorar, mais aperto a alma quando morro no findar dos teus encantos.











(lampâda mervelha)





Há palavras que não precisam de ser ditas. Ou nós achávamos que assim fosse. E foi ficando o silêncio, quebrado pelo encontro dos corpos, pela cumplicidade dos gestos, pela ternura dos actos. Mas nunca a palavra, esse elo terrível, esse compromisso inegável. E no fim, o que fica? O vazio das palavras que não se disseram, a plenitude das entregas. Da cumplicidade, apenas que é insubstituível. E irrepetível.

O amor, sempre o amor. Vulneráveis, humanos. E o amor, sempre o amor.

21/05/2009

Tudo se resume. Tudo

A cidade esta deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte
Nas casas, nos carros,
Nas pontes, nas ruas...
Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura
Ora amarga,ora doce
Para nos lembrar que o amor é uma doenca
Quando nele julgamos ver a nossa cura.

Café para um.

Deseja tomar mais alguma coisa? foi a pergunta que me fez antes de levantar a chávena suja do cafá acabado de tomar. Sim, por favor, leve-me este coração e traga-me um novo, daqueles que vêm vazios.

Na verdade, limitei-me a agradecer e a sair dali o mais depressa que pude. Afinal, foi naquele café que começou o nosso fim.

Tenho dores guardadas em caixinhas. Caixinhas que se acumulam à minha volta, e cujos conteúdos pouco quero lembrar. Pessoas que perdi, situações que preferia não ter vivido, despedidas, saudades, perdas, mágoas, traições...



Convenci-me estupidamente de que tão depressa não haveria nenhuma caixinha nova. Afinal de contas, já merecia alguma felicidade. E tive-a, em pleno, pura, líquida. Tão feliz que era...! Mas essa felicidade ontem passou a dor. Uma dor que vai levar o seu tempo a caber dentro de uma qualquer caixinha, de tão grande que a sinto ser. E logo quando eu já nem me lembrava que as outras caixinhas existiam. E de repente, todas à tona, mais frescas do que nunca, mais presentes, como num sórdido cortejo de recepção à caixa que está para vir. . .



Aceito bálsamos milagrosos...




18/05/2009

naquela hora, em que as sombras ficam mais compridas. em que tenho medo de caminhar sozinha, porque escurece e todas as coisas perdem a definição. nessa hora, eu quero ter a tua sombra comprida ao lado da minha. e juntos esperaremos que caia a noite, e os nossos corpos, fluidas sombras, ficarão juntos. toda a noite.