30/04/2008


Mais uma noite zing zing ziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiing :)

29/04/2008


Colocou o vestido de noite vermelho, calçou os saltos de agulha, pegou nas cigarrilhas e subiu os degraus, um após o outro, para o terraço. O terraço onde a avó lhe falava das gaivotas que vinham a terra quando havia tempestade no mar - a avó que vivera junto ao mar, a avó que se levantava com as galinhas para ir vender o peixe que equilibrava habilmente na cabeça. O terraço onde discutira futuros hipotéticos com a mãe e onde tirara as primeiras fotos em bebé com os primos do Porto que nunca mais vira na vida.

Ignorava por completo o ridículo a que a indumentária a sujeitava. Que disparate, numa casa em pleno campo, vestida daquela maneira absurda. Mas adorava coisas absurdas, que fossem contra os parâmetros daquilo que os outros delineavam como sendo normal. Pegou na cigarreira que herdara do avô - o qual nunca fumara! - e deu um trago no Don Pérignon Vintage que o irmão lhe trouxera da última viagem a França. Adorava aquele líquido magnético, dividido pelas nuances de frutas e minerais, maduro como gostava.

Deliciava-a imaginar o que pensariam os vizinhos, quando a vissem assim vestida, o barulho dos saltos altos a espalharem-se pela aldeia toc toc os cães a ripostarem contra aquele som cain cain, os sinos da igreja a assinalarem as horas dling dlong. Sentia os olhos deles insinuarem-se pelas frestas da janela, atraídos e simultaneamente inibidos pelo despudor dela. Quase que podia jurar ouvir os sussurros, o zun zun que despoletava. Libidinosa, a cor do vestido que envergava era quase herética. Tinha a certeza de que seria ostracizada pelos vizinhos. Mas pouco lhe importava. Depois de tudo ter perdido, pouca diferença faria ter ou não o apreço dos vizinhos.


#Imagem: Marcin Klepacki

Ele fez birra e bateu o pé e disse que nunca mais vinha ao meu blog, desde o episódio d'O Telminho tem bonus track nos pezinhos. Mas ele é um desbocado quando bebe demais, e na 6ª feira, cheios de cerveja e sol e muita água de piscina, ele descoseu-se todo. E admitiu que tinha lido e tinha gostado. E tentou, já meio inebriado, explicar aos amigos o que era um blog, e o quão bom era poder escrever o que se quisesse e ainda ter o luxo de ter uma comunidade que nos comenta e acompanha o que escrevemos. E fê-lo de uma maneira tão ternurenta e cheia de elogios, que não pude deixar de tentar me redimir daquele nosso primeiro episódio do bonus track.


Quando bebe, fica um bocadinho descontrolado, é verdade. Mas quando aquilo até corre bem, fica querido, faz-me massagens e chama-me bebé. Tão querido. É a única família que me resta.
E já merecia um post ternurento.

Cá fica, maninho. Adoro-te.*

28/04/2008

Passage du silence

Vi passar um bocadinho de silêncio. Corria, mas em bicos de pés, talvez porque era o silêncio em pessoa e não queria fazer barulho, sob pena de ver a sua reputação afectada. Fui a correr a ver se o apanhava, porque estava cansada do ruído fútil que a cidade me impunha.

Enquanto corri atrás dele, fui deixando um rasto de cacos, de chávenas e copos e pratos que se partiam atrás de mim. E a cada ruído desnecessário, sentia o silêncio a ficar cada vez mais longe de mim, e sentia a cabeça mergulhar num frenesim ensurdecedor que não entendia. Então tapava os ouvidos com os dedos indicadores, e fingia que dentro daquele zzzzzzzZZZZZZZZzzzzzzzzZZZZZZZzzzzzzzz interminável havia silêncio e silêncio e silêncio. Mas não, os dedos cansavam-se, caiam para o lado e adormeciam, e eu voltava a correr atrás da sombra de silêncio que às vezes passava por mim.


Vezes havia em que procurava abafar o ruído com as lágrimas. Mas o plim subtil das lágrimas a cairem-me no colo era quase imperceptível, e não chegava nem para abafar o zumbido irritante da mosca que estava presa entre os cortinados e a janela. E eu a fingir que estava tudo bem, que ia ficar tudo bem, que ia encontrar o meu silêncio. Mas era só isso, um fingimento disfarçado de lágrimas. E o ruído sempre lá, sempre à espreita, e o silêncio esquivo, fugidio, líquido.


Ainda hoje deixo-me ficar bem quieta, sossegada, à espera de ver o silêncio passar para lhe deitar as mãos. Mas ele passa sempre tão rápido, e eu sempre à espera de um dia conseguir apanhá-lo.




Essa coisa bem sexy que fazes com os lábios, devia proibir-te de fazê-la em público, devia ser só para mim.


Oh, não sejas parvo, já te disse que é só uma estúpida mania de brincar com os lábios!





Ele empurrou o carrinho de mão vermelho, ela levantou o regador do chão e não falaram mais nisso.

A Leonor, que ainda nem 4 anos tem, este fim-de-semana: Mimi, o meu gato morreu. Se o encontrares, podes trazê-lo para casa, para eu tratar dele?



Exactamente o mesmo que me disse há um ano atrás, quando lhe expliquei que a Titi tinha morrido. Ao que ela me responde se a encontrares, trá-la para casa, para eu cuidar dela, está bem Mimi?


Quem me dera, Leonor, quem me dera...





...ainda bem que a morte ainda não cabe numa cabecita de 4 anos...


#Imagem: zé margarido

24/04/2008

Salome


...seu porte gentil e decidido de homem de guerra desenhava-se perfeitamente sob o espesso e largo sobretudo militar - espécie de great-coat inglês -, que a imitação das modas britânicas tinha tornado familiar nos nossos bivaques.

Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra


Um irreprensível ar de dandy, ensombrado por toda uma atitude que transpirava romantismo, cultura, promiscuidade. Sempre que se cruzava com ele no Chiado, vinham-lhe à memória as imagens do sexo burlesco que tinham protagonizado no camarote da Ópera de Roma...

...estávamos em Janeiro de 2007 e na cidade não se falava noutra coisa. Noite de abertura da temporada lírica da Ópera Romana, onde Francesca Patanè protagonizaria um nu integral, na personagem wildiana de Salome. Estariam presentes altas personalidades da governo autárquico nessa noite, todos prostrados aos pés da bela Francesca.
Por coincidência, ele e ela tinham-se conhecido nessa tarde, na Piazza Navona. E descoberto também por coincidência, que ambos tinham bilhetes - por sinal exclusivos - para a sessão dessa noite. Conheciam o nome um do outro da imprensa escrita, na qual ambos trabalhavam, e secretamente admiravam já os artigos um do outro. Daí a enorme empatia, o ímpeto e o rubor que sentiram quando se cruzaram na Navona. Não fosse o frio que se fazia sentir a refrear os ânimos, e provavelmente as bocas não se teriam contido até ao espectáculo dessa noite.


(...)

Ei-los chegados ao final da ópera, eis que Francesca se exibe despudorada, elegante, refinadamente italiana.


l'immagine di Salomè viene presentata come una forma di grande potere femminile, che ammalia e conquista, seducendo

Desejaram-se de uma maneira que o corpo já não podia conter, frenético e incendiado. E a nudez de Francesca, sob os seus olhares, soou-lhes a miragem erótica, distante, a qual mais não fez, senão com que se despojassem das suas roupas invernosas ainda mais rápido.

23/04/2008


E ter uma vontade grotesta de achincalhar à bruta e ter a sensação de que nada acontece e nada é digno das farpas que esta boca profere!?

22/04/2008

E quando menos se esperava...

... a cerejinha em cima do bolo...


NHAMI!
Adam Smiht descrevia n'A Riqueza das Nações um dos conceitos económicos que mais gozo me deu estudar. Dizia o senhor que numa economia de mercado, apesar da inexistência de uma entidade coordenadora do interesse comunal, a interação dos indivíduos parece resultar numa determinada ordem, como se houvesse uma "mão invisível" que os orientasse (mais aqui). Claro que falamos de um cenário hipotético, onde as condições de mercado teriam que ser ideais.

O que na verdade não acontece.

O mesmo se passa nas relações do gajedo com o sexo oposto. Na economia das relações, não há nenhuma supra entidade que coordene os encontros e desencontros entre a gaja e o(s) seu(s) gajo(s). Por vezes, podemos ter a noção de que existe de facto uma mão invisível que induz uma determinada ordem no modo como interagimos com o sexo oposto. Mas tal como sucede com a economia de mercado de Adam Smith, as condições da economia das relações são tudo, menos ideais. Nem sempre o gajo que nós queremos nos quer a nós, e nem sempre nós estamos disponíveis quando o mesmo dá sinais claros de avanço para o nosso lado.

Isso pode gerar conflitos, bem explicados por uma brilhante nota da Real Academia Sueca de Ciências - a qual eu desconhecia - numa análise à teoria de Smith: (...) o mercado, sob condições ideais, garante uma alocação eficiente de recursos escassos. Mas, na prática, as condições normalmente não são ideais. Por exemplo, a competição não é completamente livre, os consumidores não são perfeitamente informados e a produção e o consumo desejáveis privadamente podem gerar custos e benefícios sociais.

É ou não é verdade? Quantas vezes nos sentimentos prejudicas por uma injusta concorrência com mini-saias e silicones exagerados, que desviam a atenção do gajo para esse exemplar fútil e grotescamente mamalhudo? Quantas vezes sentimos que não estamos a ter acesso a toda a informação? Quando o gajo parece perfeito de mais e há ali qualquer coisa que nos deixa a pulga atrás da orelha, pois é muito improvável tamanha perfeição? E quanto à produção e ao consumo desejáveis privadamente, tanto que haveria a dizer!! O adultério que provocam, as traições e, inevitavelmente, os custos sociais... Roupas que voam pela janela, um nunca mais de dirijas a palavra gritado da janela a plenos pulmões, a casa de campo para ti, o Range Rover para mim, enfim, uma engorda da qual os advogados tiram partido, e muito.

É o caos, é o vê-se-te-havias, é o cada-qual-aos-seus. E depois, claro, são recessões emocionais, são quebras no mercado, é a inflação.

Impressionante o quanto a economia pode ser precisa quando decalcada sobre as relações humanas. Raios, nunca devia ter ido para Relações Internacionais, e sim para Economia. Um dia ainda chegava a Nobel.

19/04/2008

Sabes, concluiu por fim, eu queria era fazer amor. Aquela frase era de uma infantilidade tal que me deu vontade de rir. Esperar amor de uma one night stand. Tudo isto enquanto esperávamos por um taxi, debaixo de uma chuva que não dava tréguas.

A Esparsa abordou a questão, e eu fiquei com a pulga atrás da orelha, o assunto ali a morder. Parece que anda para aí a insurgir-se uma corja de gajedo a la mode de Samantha Jones e companhia, muito apologista da libertinagem sexual e do one night stand. Gajedo urbano, independente e emancipado. É vê-las no Bairro e no Lux, no Chiado e no Adamastor, de copo na mão e sex appeal em riste, a fisgar a próxima vítima. Gajas "masculinizadas", frias e insensíveis, que pouco se importam se o gajo passa a noite ou não, se fica para o pequeno almoço, se liga no dia a seguir.

Dizem elas.

Depois vai-se a ver, e a gaja não queria só sexo. Queria fazer amor. A-M-O-R. Queria um gajo onde se pudesse aninhar, um gajo que no dia a seguir não cheirasse a álcool e que lhe levasse o café à cama, que lhe enrolasse um charro de erva e ficasse com ela a alucinar, a fingir uma falsa cumplicidade que ambos sabiam ilusória. Que a levasse a passear ao Borda d'Água e depois a jantar à Bica do Sapato. O gajedo anda para aí todo de nariz empinado, mas lá no fundo, bem lá no fundo, ainda há uma réstia quase imperceptível de sensibilidade de gaja. Tempos curiosos, estes que vivemos...


#:Carlos Hauck

6,5 kilos mais tarde...


...é Sábado à noite e não há uma porcaria de uns jeans (*) que me fiquem bem.

Dass, ser magra custa!

(*) Eu sei que ninguém usa a palavra jeans desde o início dos anos 90, mas o que é que querem, apetece-me!

18/04/2008


Em Peniche, no dia 26, a não perder!!

O marketing hoje em dia promove todo o tipo de acções que conduza à venda de produtos. Uma das quais é o já conhecido "leve agora e comece a pagar depois". Estou em crer que no amor, devia existir uma opção semelhante, do género "leve agora e comece a consumir mais tarde".
Porque o amor às vezes chega cedo de mais, consome-se cedo de mais, esvai-se cedo de mais. Assim, quando fosse encontrado em altura indesejada, ficava congelado, à espera do momento ideal para ser consumido.
À semelhança de um bom vinho, que espera o ano certo para ser aberto. E eu que gosto tanto de vinho...

15/04/2008

esta noite sonhei que ela tinha voltado. passava-me a mão pela cabeça e dizia-me que tudo estava bem, que esta longa ausência tinha sido apenas um prolongado período no hospital. isto numa altura que me sinto mal por não pensar nela. em que tento não o fazer, porque magoa sentir esta saudade desmedida. logo eu que nunca sonho com ela.


acordei e havia apenas um quarto vazio e as paredes a ecoarem a minha saudade.

Ok, este vídeo também é uma excepção. Não vou continuar a postar vídeos. Mas como o nosso Number One aparece em grandes planos, fica a homenagem das groupies do Rego.
Props! Ahahah
Amanhã vou-te pôr em pause, fazer um rewind e ficar em repeat contigo, o dia todo.



14/04/2008

Sentados sobre as camas de ferro dos seus quartos, lembraram-se: encontrámo-nos. Naquele dia, perante a imagem verdadeira um do outro, sentiram: encontrámo-nos. No rosto dele, a esperança. No rosto dela, mais do que a esperança. Encontrámo-nos. Encontrámo-nos. Encontraram-se. Foi ele que caminhou a distância pequena que ainda os separava. Foi ele que estendeu os braços. Ela baixou o olhar entre o seu corpo imóvel e a terra. Os braços dele sem uso. As palavras formaram-se dentro dela. As palavras aproximaram-se dos seus lábios. No silêncio, entre os seus rostos, as palavras existiram e foram um eclipse.

José Luis Peixoto, Ao Adormecermos Eternamente, in Antídoto

#Imagem: Em Chinatown, Nova Iorque

11/04/2008

E agora, algo completamente diferente!

Eu, que sou anti vídeos/musicas/e afins no blog, desta feita não resisti. Porque ontem a noite no Lux foi grande, e este senhor, apesar de um bocado esquizofrénico para o final da noite, tem todo o mérito naquilo que faz. zing zing ziiiiiiingggggg!!!

10/04/2008












For what loss does the rain bleat
in painful sinuous tones?
with sudden shudders it sighs
and glinting eyes growls?


Sandhya Ramachandran


A cidade fora engolida pela chuva. Água, água, água por todo o lado, esse elemento invasivo que ninguém podia deter. Final de tarde barulhento, dia cheio de ruído, cabeça plena de voos inconcretizados. Eis senão quando passa o carro, e a colhe, perdida na sua própria distracção. Como não sendo já suficiente a água que escorria a catadupa dos céus, o carro passara e sem dó nem piedade, pusera-a a pingar dos pés à cabeça. E foi literalmente a(s) gota(s) de água, o momento em que se sentiu tombar, em que se sentiu pequena e diminuída. Lembrou-se do hálito dele. Quis beijá-lo. Sentiu-se esmagada pela trombra de água, pela injustiça dessa banho infortuito, e pela sua fraqueza incomensurável. Todos os dias se lembrava do hálito dele. E agora mais do que nunca, ali pousada a pingar na beira da estrada, esmagada pela trombra de água, pela injustiça dessa banho infortuito, e pela sua fraqueza incomensurável.
Ontem peguei na guitarra para tocar 20.000 Seconds, a minha música favorita de K's Choice e a que mais recordações da adolescência me traz. O meu primeiro namorado, beijava-o às quartas-feiras à tarde, a ouvir a K7 gravada dos K's vezes sem conta. E íamos ser muito felizes e ficar juntos para sempre.

Mas a eternidade afinal só durou 5 meses.


Mas enquanto durou, era sempre uma aventura conseguir ir ter com ele. Primeiro, porque tinha que desencantar 500 escudos para o autocarro. O que ainda era muito, tendo em conta que a minha mãe me dava só 200 e eram para o almoço - estávamos em 1999. Mas entre amigas, lá se reunia o dinheiro para a menina h4rddrunk3r não ficar uma quarta-feira sem ir namorar. Depois, era fazer figas e implorar aos santinhos todos que ninguém no autocarro me reconhecesse e fosse contar à minha mãe. E arranjar mais um estratagema qualquer que colasse, e fizesse a minha mommy acreditar que tinha passado a tarde na biblioteca a estudar...

Claro que a farsa das quartas-feiras não durou muito e a minha mãe não tardou a perceber que eu estava apaixonada. E em vez de lhe esconder as minhas escapadelas, ela passou a ser a minha aliada, confidente e melhor amiga. Que aliás, já era, mas quando se tem o primeiro namorado, nunca se sabe como é que a mamã irá reagir!


Era difícil encontrar um sítio sossegado onde os olhares curiosos não incomodassem. E por isso, foi com ele que cometi o meu primeiro pseudo-acto de vandalismo, ao entrar na rodoviária e arrombar um autocarro, onde ficávamos escassos minutos a trocar muitos beijos (e algumas poucas palavras). Daí, a arrombar a escola primária lá da terriola foi um passo. Porque o telefone lá dentro me permitia ficar a falar com ele sem pagar e sem ter a minha avó a perguntar-me para quem é que eu andava a ligar tanto Ah, avó, é um amigo cujos pais se divorciaram há pouco tempo, está um bocadinho em baixo... Foi também com ele que passei uma tarde inteira aos beijos no Baleal e apanhei o meu primeiro e mais grave escaldão de sempre, de tão entretida que estava.


Hoje sabe-me bem recordar ao que sabiam aquelas pequenas grandes aventuras. O que era chegar a casa nos primeiros tempos de coração apertado, a torcer para que a minha mãe não suspeitasse.


E as horas que passei no quarto a deprimir, ao som desta música, quando mais tarde quis voltar para ele e fui rejeitada. Sofri mesmo muito. Aquele sofrimento cuja intensidade, só as hormonas juvenis permitem. Um exagero. Mas hoje, recordo esse sofrimento com alguma nostalgia. . .


20,000 seconds since you've left and I'm still counting
And 20,000 reasons to get up, get something done
But I'm still waiting
Is someone kind enough to
Pick me up and give me food, assure me that the world is good
But you should be here, you should be here

How colors can change and even the texture of the rain
And what's that ugly little stain on the bathroom floor
I'd rather not deal with that right now
I'd rather be floating in space somewhere or
Worry about the ozone layer
And it's almost like a corny movie scene

But I'm out of frame and the lighting's bad
And the music has no theme
And we're all so strong when nothing's wrong
And the world is at our feet
But how small we are when our love is far away
And all you need is you

#: hardestthing
Eu não gosto de desafios bloguistas. Não vejo nisso nenhum objectivo útil, pelo menos na maneira como encaro o meu blog. E a Lover lançou-me logo o desafio mais difícil de todos. O de escolher 5 livros ou autores de eleição e um livrinho/autorzinho para ficar a apodrecer na estante. Leitora intrépida que sou desde tenra idade, não consigo dar resposta eficaz a tal desafio. Desde Saramago a Lobo Antunes, Pessoa e Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco e tantos outros, é-me impossível eleger só 5. Ultimamente ando a devorar a obra do Miguel Torga. Os livros deste génio transpiram ruralidade, simplicidade, humanismo. Estou deveras apaixonada. Pela obra, claro! Na estante, deixava a Agustina Bessa Luís e o Paul Auster. Tentei ler um livro dele, mas fez-me sentir tão, mas tão mal comigo mesma, que tive que o deixar ainda antes do meio.
Não passo o desafio a ninguém em particular, mas quem quiser, sinta-se à vontade para lhe pegar...

09/04/2008

Ressabiamento do dia

Uma minha amiga mexicana tem a sorte (dependendo da perspectiva, claro) de fazer parte da socialite do seu país. Até aí nada de extraordinário, não fosse o facto de certos e determinados deuses como Diego Luna e Gael García Bernal estarem incluídos nesse círculo restrito. Ok, nada de extraordinário novamente. Não fosse ainda o facto dessa minha amiga ser presença assídua nas festas do Luna, às quais comparece o Bernal.
Sim, estou cheia de inveja e este é o meu momento de ressabiamento do dia...


... SUSPIRO...
Clara

É indescritível o conforto que tenho encontrado no cigarro. Oiço a folha do tabaco crepitar, devagar, enquanto inspiro o fumo até aos meus pulmões. Encontro nesse cigarro uma estranha e ingrata paz, que pouco mais me traz que a ilusão de uns minutos em sossego.

Não esqueci a conversa que tivemos nas escadas da Piazza di Spagna, em frente à igreja, em frente aos artistas de rua, aos turistas, aos romanos, à cidade. Falavas-me da tua vontade em virar costa a Roma, a Itália, a essa cidade frenética que te engolia todos os dias no seu sufoco irrespirável. Também eu hoje e sempre sinto essa vontade. Desde que me conheço como pessoa. Uma vontade gritante de virar costas, sempre e a tudo. Voltar costas a Belém, aos Jerónimos, a Sintra, ao Castelo e ao Chiado, à Baixa e aos Restauradores. Quero entrar num avião infinito que não tenha destino e encontrar-te algures no globo. No Irão, no Chile, na China ou no Congo. Queria comprar esse bilhete que não tem preço. Esse bilhete só de ida que oferece uma viagem sem regresso rumo à liberdade. E Clara, quando essa liberdade for minha... Não há carta que te escreva que possa conter a minha euforia. A Cláudia que tu conheceste nunca mais será a mesma, pois ter-se-á encontrado a si própria. Ter-me-ei encontrado, Clara.

Esta noite sonhei que a Natalie Portman e a Norah Jones tinham sexo desenfreado num motel de beira de estrada algures no deserto do Nevada. Talvez por ter visto aquele filme do Wong Lar-Wai onde a Norah tem um caso com o Jude Law. O que não deixa de ser estranho, pois mais depressa me imaginaria a mim nos braços dele, do que aquelas duas enroladas uma na outra. Nem sei qual a relevância de te estar a contar isto. Talvez apenas por isso mesmo, por ser irrelevante.

O dinheiro tem tomado conta da minha vida. A ginástica incessante e esgotante que faço por esticá-lo, por tentar reavê-lo, por querer encontrá-lo algures, não sei onde, e saldar as minhas dívidas. Liquidar esses tormentos que me assombram os dias, que me roubam lágrimas, que me provocam aquela dor no peito de que te falei, ou a tensão no fim das costas. Sabes, como quando chegávamos a casa embriagadas das noites, do calimoxo e das vodkas que bebíamos sem pensar que amanhã. E tu pousavas as tuas mãos nas minhas costas e mandavas essa tensão embora. E depois beijavas-me e fazias-me adormecer ao teu lado. Com as tuas mãos nas minhas costas. O calor que me passavas, o conforto, o esquecimento de nós mesmas. Entregues uma à outra. E eu cheia de sombras e medos e incoerências, provocadas pelos teus beijos.

Nunca mais nenhuma mulher me beijou. Nem nunca mais nenhuma mulher quis que eu apanhasse o avião infinito com ela. E eu fiquei aqui, em Lisboa, a sonhar com Roma e com a Piazza di Spagna. O céu nunca mais deixou de ter a cor cinzenta e os meus sonhos passaram a estar povoados de incêndios, de manias pirómanas que desde então não entendo.

Clara, ainda aí estás? Porque começo a sentir-me como aquela estátua imóvel de que tanto gostavas. Envernizada, fria, exposta aos caprichos das intempéries, à chuva e ao vento. E ela nunca há-de sair dali. E eu começo a sentir um medo paralisante de também nunca sair daqui.


Às vezes tenho dúvidas de que alguma vez tenhas sequer existido.


#Nuno Videira

08/04/2008

Chegam aqui pelos motivos mais estúpidos. Não interessa se ficam 1 segundo, ou uma tarde, se clickam aqui ou ali. O que interesse é que cada vez que me dou ao trabalho de espreitar o Sitemeter, me farto de rir.

A primeira investida foi no Sapo: CINTAS ADELGACANTES. Não contente com o resultado, protagonizou segundo ataque, desta feita no google: cintas adelgaçantes para a barriga. Nada mau, estamos a ficar mais específicos! Duvido é que tenha saído daqui contente, pois a pesquisa remetia directamente para um momento de achincalhanço, precisamente sobre as barrigas quadradas que essas cintas se propõem esconder.

Pessoas houve que vieram aqui afirmar a sua identidade, com afirmações como sou meia hippie. Talvez alguma filha adolescente, cuja mãe veio em seguida pesquisar como se parecem os novos hippies. Deve querer identificar sinais ocultos na filha. Que giro, conflitos geracionais no meu blog.

Outro houve que veio para aqui à procura de máquinas de lavar da Worten... Ok, boa sorte na procura...

Melhor, há alguém que anda à procura de emprego como optometrista na sonae. A resposta foi pouco clara: A Sonae, quer me parecer, deve ter pactuado com algum lobby do mundo da optometria. Palavras minhas, vá-se lá saber!

Quanto à pesquisa sobre a vida de soquete, fiquei a saber que soquete, para além ser poder ser uma meia, vulgo, peúga, tem qualquer coisa a ver também com porcas e parafusos... Go figure!

A terminar com chave de ouro, alguém foi em busca dos classificados do correio da manhã. Agora resta saber se em busca de emprego, ou de um momento de prazer solitário (a.k.a. masturbação), com aquelas imagens das gostosonas (ler com sotaque brasileiro), peludinhas, faço tudo, etc etc etc.


Viva o Sitemeter!!
Algumas das ideias, apontei-as mentalmente. Outras, mereceram um rascunho de mensagem no telemóvel. A minha fonte das palavras parece ter secado, e às poucas ideias que se insurgiram, agarrei-as e fixei-as o melhor que pude. A importância de um predicado ou a depressão que me provocam os casais domingueiros são ideias que quis esmiuçar, dissecar. Mas nada é assim tão simples. Não se apontam simplesmente as ideias e as palavras escorrem. E depois fica um estranho travo a frustração, um vazio incompreensível. Da mesma maneira que me sinto sufocar quando as palavras se acumulam na minha garganta, sinto-me esmorecer quando tal não acontece. Porque afinal de contas, que mais tenho eu, senão as palavras? E esta evidência de mim?....



A Dádiva da Evidência de Si

Que havia, pois, mais para a vida, para responder ao seu desafio de milagre e de vazio, do que vivê-la no imediato, na execução absoluta do seu apelo? Eliminar o desejo dos outros para exaltar o nosso. Queimar no dia-a-dia os restos de ontem. Ser só abertura para amanhã. A vida real não eram as leis dos outros e a sua sanção e o seu teimoso estabelecimento de uma comunidade para o furor de uma plenitude solitária. O absoluto da vida, a resposta fechada para o seu fechado desafio só podia revelar-se e executar-se na união total com nós mesmos, com as forças derradeiras que nos trazem de pé e são nós e exigem realizar-se até ao esgotamento. Este «eu» solitário que achamos nos instantes de solidão final, se ninguém o pode conhecer, como pode alguém julgá-lo? E de que serve esse «eu» e a sua descoberta, se o condenamos à prisão? Sabê-lo é afirmá-lo! Reconhecê-lo é dar-lhe razão. Que ignore isso o que ignora que é. Que o despreze e o amordace o que vive no dia-a-dia animal. Mas quem teve a dádiva da evidência de si, como condenar-se a si ao silêncio prisional? Ninguém pode pagar, nada pode pagar a gratuitidade deste milagre de sermos. Que ao menos nós lhe demos, a isso que somos, a oportunidade de o sermos até ao fim. Gritar aos astros até enrouquecermos. Iluminarmos a brasa que vive em nós até nos consumirmos. Respondermos com a absoluta liberdade ao desafio do fantástico que nos habita. Somos cães, ratos, escaravelhos com consciência? Que essa consciência esgote até às fezes a nossa condição de escaravelhos.

Vergílio Ferreira, Aparição


#Imagem:
Carlos Mendes

02/04/2008

Logo à noite: Walter Benjamin - The National Crises


O MAXIME abre as portas a algumas das mais recentes promessas da pop, folk, música trauteada portuguesa.Para esta quarta-feira o convidado é Walter Benjamin, de sua graça Luís Nunes, que se estreia no MAXIME para apresentar o ainda fresco e bem acolhido The National Crises. O ep de estreia deu que falar, tendo inclusive merecido algum destaque em webzines especializadas em música independente, no mundo virtual das netlabels, na abrangente e alternativa rádio RADAR ou na Agência Lusa.
Em The Dog Follows the Bull, Walter Benjamin abre o livro das suas canções, munidas de guitarras em modo Folk Americano mas também de "modernices" como samples, loops e outras maquinetas electrónicas. É neste combinar da sua paixão pelas canções de refrões marcantes, que têm ganho vida ao longo dos últimos 50 anos de música popular, com a vontade de renovar a linguagem através de meio menos habituais que Walter faz jus à sua música. The National Crisis ganha assim vida numa edição limitadíssima e bonita, em CD-R - como convém a quem quer subverter as lógicas mercantis da pobre indústria portuguesa. Ao vivo costuma fazer-se acompanhar por Dordio, b ou Christian Schiessler.


Info tirada daqui!
O meu boogie woogie Opel Astra está à venda. Verdinho como se pode ver, de 1998, 5 portas. Se tiverem por aí 1900€ à mão, está 'dado'. Mais informações, mailem para mim.