27/08/2008

E afinal, há feridas que não estavam tão fechadas como se pensava. Nem perto de saradas. Enchendo o dia-a-dia de farsas, de pequenas encenações, dramas, tragédias. Enchendo os dias de pensos rápidos, daqueles que ajudam a estancar o sangue. Mas há sempre feridas que não fecham, que clamam por mais atenção, por mais pensos rápidos.

Felizmente, ainda há quem nos obrigue a por o dedo na ferida, quer queiramos quer não. E damos por nós numa tarde de domingo, um alpendre decorado de lágrimas. Ali sentada no alpendre, desejei ter deixado os pensos de lado ao longo do caminho. Mas não, era mais fácil assim. A cor ocre do penso, promessa de cura imediata tremendamente irresistível. Por o dedo na ferida não é fácil. Faz doer. Mas segundos depois sente-se o coração bombear um pingo de cura corpo fora. E depois outro sorrateiro. E mais outro. E outro. E é nesse pedaço de segundo que ainda se consegue ousar acreditar que a vida poderá um dia ser tudo aquilo que desejamos.

05/08/2008

Os nocturnos de Chopin tiniam-lhe na cabeça insistentemente. Tortura romântica, sôfrega, sabia-o. Uma hipérbole sentimental à qual não conseguia escapar. O estoicismo gratuito a que se prestava. Olhava os livros à sua volta e chorava. Queria tê-los, lê-los. Lê-la, folheá-la, tocá-la como o piano que o perseguia. E ela desafinada, cordas soltas, endiabrada.


郎朗-蕭邦-Op.9 NO.2夜曲.mp3 -