31/12/2007

Memória


no sumo de maçã


na calçada de Carriche


no Epá


na A8


no Martim Moniz


nos cozinhados que me ensinaste


nas toalhas que me coseste


o "enxoval" que preparaste


no sorriso do mano


nas mães e filhas que passam na rua


na Leonor


nas gaivotas que passam quando estou no terraço


no Martim Moniz


na H&M


na praia, o teu último dia


da D.Natércia, na Srª Lena (que chora sempre)


nas paredes do Hospital


no eco da casa vazia


nos abraços que a Anita me dá


no anel de prata que esqueceste perdido em casa


Estás em todos esses lugares, pessoas, pedaços de abstracto. Estás em tantos sítios e no entanto estou vazia, procuro-te e não te encontro. Só lá dentro, baixinho, quando olho para dentro de mim e choro, porque sei que te encontrei mas que já não te posso abraçar.

28/12/2007

La vie sexuelle des autres


Llorona

Todos me dicen el negro, Llorona
Negro pero cariñoso.
Todos me dicen el negro, Llorona
Negro pero cariñoso.
Yo soy como el chile verde, Llorona
Picante pero sabroso.
Yo soy como el chile verde, Llorona
Picante pero sabroso.

Ay de mí, Llorona Llorona,
Llorona, llévame al río
Tápame con tu rebozo, Llorona

Porque me muero de frió
Si porque te quiero quieres, Llorona
Quieres que te quieres más
Si ya te he dado la vida, Llorona

¿Qué mas quieres?
¿Quieres más?

Lésbica assumida. Chavela arrepia-me.

27/12/2007

Eles

Há-os mais ou menos divertidos. Uns alegram-me e outros fazem-me chorar. Às vezes aborrecem-me e termino a relação a meio, sem lugar a uma última noite juntos. Ficamos sem saber se teria ou não resultado. Mas naquele momento crucial, ele falhou, e não me restou outra alternativa, senão abandoná-lo.



Outros há que me oferecem viagens, as quais não cabem na minha carteira. Quando me convencem, passo mais tempo com um em particular do que com os outros. Chego a envolver-me com 2 e 3 ao mesmo tempo, o que torna as minhas noites complicadas, nunca sei com qual deles hei-de ficar. Por vezes nem me preocupo em escolher qual o ideal, e eles ficam ali deitados, ao meu lado.


Não sei o que faria sem os meus livros.

21/12/2007

Just Married

Perdoem-me os nubentes, mas detesto gente recém-casada.


Um dia destes, depois de uma extenuante jornada de trabalho, tive direito à cerejinha no topo do bolo, tão reluzente e vermelhinha que ela era: o casalinho recém-casado, sentadinho à minha frente no Metro. Desculpem-me os "inhos" e as "inhas", mas esta gente parece alimentar-se à base desses epítetos.


Descrição do exemplar da espécie:


  • aliança de ouro, com a maior quantidade de quilates disponível na ourivesaria, e a mais grossa possível, gritante!


  • a boca, num beicinho sapudo, a cada 0,6 segundos buscando um beijo repenicado no beiçal do parceiro (foi nesta parte que eu ia bolsando).


  • os olhares derretidos, alheios a tudo o que acontecia. O senhor que estava sentado ao lado deles, cheio de implantes capilares, tez desmaiada e com ar de Hepatite B, bem que podia ser um bombista islâmico, que eles não reparavam.

A rapariga, valha-me isso, era engraçada, talvez por isso tenha reparado neles. Mas tinha aquele ar de secretária/administrativa/auxiliar, com a calcinha de tecido, a botinha de cano alto, a camisa e o lenço... Toda uma personagem que abomino. Já o marido não se podia gabar de ter esses genes misteriosos que conferem a beleza. Mortiço, apagado,desinteressante. E naturalmente orgulhoso do espécimen ostentado.

Entretanto, repararam que eu os observava. Soltaram aqueles risinhos de cumplicidade muito naughty, mas de quem claramente pouco mais conhece além do missionário. Devem ter achado que estava a admirá-los, a invejá-los no seu privilégio, exclusivo de quem acaba de trocar votos e promessas de amor eterno até que a morte os separe, ou lá o que é. Mal podiam imaginar que, naquele momento, o meu jantar quase lhe aterrava nas roupagens pseudo-executivas.

Gostaria de tirar daqui uma conclusão fenomenal. Lamento desiludir, mas foi apenas um desabafo.

20/12/2007

Bem vindo a casa

Ontem jantei no Tertúlia do Paço.
Crustáceos por todo o lado, senhoras donas ladys e seus ditocujos.

À primeira entrada, o simpático (?) senhor oferece-me o "babete, para não sujar", o qual recuso terminantemente. Estou consciente das minhas faculdades motoras, ora essa, homem! Como se não bastasse o habitat ruminante (onde as senhoras comensais inclinam a cabeça cerca de 32,97% para passar um ar etéreo de interesse nas tertúlias) ainda me queriam ridicularizar, 'babetizando-me'?! Por favor!

Sou uma mulher de tascas, admiro. Gosto de comer com as mãos, de me lambuzar, de não ter que pousar o guardanapo no colo. Não fui habituada a tais trejeitos de requinte.
Mas reconheço, a ocasião justificou o local. Se bem que nada tenha corrido como previsto. Resumidamente: entrámos no restaurante cerca das 22h10, às 22h45 "ganhei" um namorado e pelas 23h20 já o namoro tinha acabado. Muito hollywoodesco, de facto. No dia seguinte, galhardetes à parte, tudo voltou à normalidade (se é que algo de que acontece entre mim e o P. pode sequer ter essa designação). O regresso à condição abandonada cerca de dois anos e meio antes.
Alguns países e muitos quilómetros depois, voltámos a estar no mesmo sítio, à mesma hora, com o sentimento na mesma frequência.
Tudo a começar de novo.
Eu bem que tinha avisado...
Blog novo, vida nova!
De cara lavadablog novo, vida nova

19/12/2007

Assis

Metida na cama entre a avó e o avô, pequena aprendi com eles os pai nossos e as avé marias. Os rituais dos incensos e das hóstias, as velas e as procissões.


Chegada a Roma, a crença, já em crise, entra numa espiral descendente, contrariada por tanta opulência.

Mas Assis mudou tudo. Francisco e Clara, juntos na mesma cidade. Apaixonei-me pelo despojamento e, por momentos, voltei a acreditar em algo.

Rodeada pelos bens que restam de Francisco, senti-me ínfima, pequena, esmagada pelos ideais de humildade e pobreza que pregou.

Foi efémero, esse meu regresso às crenças antigas, mas válido pela sensação que deixou, de que tudo pode ser tão simples, tão sentido...

Lisboa, Lisboa...


Separadas pelo vidro, ela abraçava-me no buliço matinal chuvoso que se fazia sentir...

Eu esperava o meu 48 e ela, generosa, retribuia com olhares. Uns curiosos, outros reprovadores, outros mais gentis.

Entretanto contei-os... 1, 2,3,4,5,6,7,8,9 japoneses chegavam ao Hotel Fénix. Recebidos pela chuva de Dezembro e ansiosos por abrigo, esqueceram-se de olhar a beleza da cidade quando chove. Não os acolheu a Lisboa da luz mítica que tanto inspirou poetas e pintores, e fiquei a pensar qual terá sido a primeira impressão dos japoneses, o que os cativou, se vão voltar.

Entretanto chegou o 48. Parti.

18/12/2007

Sad Christmas

Aquando do período vivido em Roma, a vida era uma roda viva. A casa foi partilhada com Portugal, Itália, Brasil e Estados Unidos, também amiúde frequentada por Nova Zelândia, Espanha, Suécia, Turquia, Berlim e tantos outros lugares que me estimulam a imaginação (e fértil que ela é...).

Hoje tudo isso parece tão distante, como se fazendo parte de uma vida que não vivi e que não foi a minha. Queria lá voltar, queria cair outra vez de bêbeda e comer panquecas com Nutella e ficar cheia de dores de barriga - sim, porque o chocolate e o álcool não vão juntos ao futebol.

Queria não ter que apanhar o mesmo autocarro e metro de 2ª a 6ª, onde circulam infinitos os mesmos rostos cabisbaixos e oprimidos pelo torpor dos dias, entrar pelas mesmas portas, dizer o mesmo 'Bom Dia' amarelo e mortiço.
Queria uma vida como ela já foi... Inesperada e imprevista.
Uma memória distante traz-me os dias em que a resposabilidade mor a cada dia era escolher um outfit para vestir, uma festa para ir, e quem levar como companhia. Tempos áureos, esses, cirandando por festas que não acabavam mais, quase cansativas de tantas que eram.

Hoje, os dias desfilam iguais, castradores, sufocantes, resumidos às idas semanais ao Minipreço (sim, com o cartão de descontos...), aos passeios de fim-de-semana pelo Oeste ou por Lisboa (nada mais deprimente do que um Domingo em Lisboa), à difícil tarefa de encontrar uma refeição que sirva de jantar e almoço sem enjoar...
Egoísmo? Ensimesmismo? Talvez, mas são os sentimentos que me devastam e consumem. E como se não bastassem tais estados de alma, o espírito natalício ainda entra ao barulho para desinquietar o meu já inquieto espírito (muito pouco natalício).

Fica o postal, luz altruísta de alguém que parece ter-se lembrado que o Natal não é essa época idílica.

Boas Festas

Secrets

Quando pensarmos que as nossas pequenas 'coisas' a que chamamos problemas são muito grandes, vale sempre a pena espreitar... Talvez mudemos de ideias*

http://postsecret.blogspot.com/








12/12/2007

Hemorróidas (que nome harmonioso)


Espero que o senhor não se lembre de ter hemorróidas... Não quero imaginar o design da mala.

Qual o número de telefone do céu?

Por vezes, pego no telefone e vou lhe ligar. Mas não passa de um mero reflexo, resultado de gestos executados over and over ao longo dos anos. Tinha mil coisas para lhe contar. Aquela viagem que vou fazer, o tal emprego que consegui, algum conhecido dela que encontrei na rua... Mas pego no telefone e ela já não tem número.

Para não explodir, começo a enviar mensagens em massa para os números mais chegados do telemóvel. Como se todos esses números e essas mensagens juntos, pudessem substituí-la e disfarçar a falta que ela me faz.

Será que os anjos têm número de telefone?

O Telminho tem Bonus Track nos pezinhos

11/12/2007

Memória Olfactiva


Hoje senti no ar o cheiro àquelas maravilhosas sopas de leite que a minha avó me levava à cama nos meus tempos de petiz. Com o tempo, o leite passou a café e fez-se ser alvo da chacota das pessoas com quem fui partilhando casa. Como é possível não compreenderem o maravilhoso pitéu que resulta da junção do pão que ninguém quer comer com o café? Inclusivé, é uma óptima solução em tempos de crise, basta ter café e pão duro em casa e não passamos fome. Salvou-me, em inúmeras situações, de definhar de fome.


A minha avó era um ser adorável. Como se não bastasse ter me ensinado a comer as mágicas sopas de café, teve uma paciência de Job para mim e para o meu irmão. Tratá-mo-la muito mal, confesso. Afinal, não é fácil ser adolescente e partilhar casa com mãe, avó, avô, irmão, cão, gato, galinhas e de vez em quando os primos que apareciam para dormir. E a avó estava sempre ali à mão para descarregar essas frustrações mal processadas. É horrível ser adolescente.


Mais horrível ainda é ter perdido a minha avó sem ter tido tempo de lhe mostrar o quanto ela significava para mim. O quanto eu teria gostado de abraçá-la mais vezes, de não lhe ter pregado aquele susto quando peguei pela primeira vez no carro, de não lhe ter respondido torto quando ela me dizia que eu tinha que comer porque os meninos morriam à fome em África. Esses meninos estavam muito distantes de mim, mas a minha avó estava ali ao meu lado e eu não lhe disse que a amava.


A minha avó era uma grande mulher. Segundo consta, o meu avô teve alguns flirts aquando das suas deambulações país fora. E a minha avó, qual heroína silenciosa, calou, foi companheira, amiga, esposa, mãe. E acompanhou-o nos últimos anos de vida, silenciosa e sofrida, enquanto ele definhava às mãos do alzheimer, parkinson e de quantas mais doenças o corroíam. Esgotada pelo esforço que requer o acompanhamento de uma pessoa nesse estado, o enorme coração da minha avó não resistiu e sucumbiu no dia 9 de Dezembro de 2003, numa cama de hospital. Logo ela, que toda a vida se recusou a entrar em hospitais.


O meu avô ainda ficou connosco mais um ano. Após o desaparecimento da minha avó, ele chamou pela sua "Morena", como carinhosamente lhe chamou toda a vida. Deixou de comer, de falar, de viver, prisioneiro de um corpo cadavérico e de uma doença que lhe retirava toda a lucidez. Depois de uma vida em comum, eis a maior homenagem que ele podia prestar à minha avó: esquecido do mundo, de nós e de ele mesmo, ele sentiu que ela tinha partido. E chamou-a.


Mas ela já não ia voltar.


No dia 3 de Dezembro de 2004, também o meu avô nos deixou. Contra todas as expectativas, poucas horas antes de partir, ele reconheceu a minha mãe e as restantes pessoas que estiveram com ele nessas últimas horas. Capricho estranho que é esse da morte, a lucidez esmagadora que o fez ver ao que esteve reduzido naqueles últimos três anos de vida (vida?...).


Hoje admiro a minha avó por aquilo que foi e sofro por aquilo que não lhe dei, pelas palavras que não lhe disse. Um "obrigada" no momento certo teria feito toda a diferença.


Avó, obrigada por tantas sopas de leite.

...16, 22, 21, 18, 15...


Ela não teria mais que 15 ou 16. Estávamos ambas na paragem do autocarro. Olhou-me altiva, e senti nela a inveja pelos meus 22 anos que não podia adivinhar, apenas estimar.

Ela não sabe, não pode sequer imaginar o que contêm os meus 22 anos. As mágoas, perdas, desilusões, solidões que marcaram os meus 22 anos. Mas imagino que, aos seus olhos, eu seja uma adulta independente, auto-determinada, emancipada, capaz de decidir o meu rumo e fazer as minhas escolhas. Mas desconhece os meus medos e as minhas angústias.

Também eu, com a sua idade, invejava os 22 anos dos outros, auspiciava a essa liberdade trazida pelos 18, sem imaginar as dúvidas e incertezas reservadas para os 21. Hoje, com 22, invejo eu a liberdade dos 16.

Números apenas, mas estados de vida tão distintos, singulares.

Nunca mais fui tão livre como quando tinha 16 anos. Livre de horários, de responsabilidades, de pessoas. Tomara eu voltar a ter os meus issues de 16 anos. Discutir com a minha mãe para poder ficar só mais uma hora naquele bar, discutir com a minha mãe para poder namorar com o Pedro, discutir com a minha mãe o nosso parco poder de compra, discutir com a minha mãe pelos motivos mais ridículos e egoístas e que na altura me pareciam a maior causa do mundo.

Hoje percebo o quão vazio é esse egoísmo tão sixteen typical. Ainda assim, fui feliz, assim egoísta.

Queria ser livre outra vez. Queria ter 16 anos.

P.S. - Com 6 anos, eu achava que era perfeita, por oposição às minhas amigas da primária. Achava que era a filha, a neta, a irmã e a amiga perfeita.
Tinha, portanto, a convicção mais estúpida de sempre. Com 6 ANOS. Estupidez precoce, está visto.

07/12/2007

Conversa de Circunstância


Odeio conversas de circunstância. Discorrer sobre o estado do tempo, as viajens que se fez e se pensa fazer, os amigos em comum.... Aborrece-me profundamente! Admiro a Paula por conseguir fazê-lo com uma mestria insuperável (leitores, a Paula é uma das adoráveis criaturas que vive comigo e que eu adoro. Digam todos "Oláaaa Paulaaaaa). A Paula nasceu a saber adaptar-se às pessoas com a mesma facilidade com que eu digo as minhas barbaridas, e é inimitável na sua arte da mesma maneira que eu sou na minha - modéstia à parte. E esse é um dos muitos motivos pelos quais adoro partilhar aquilo a que chamamos casa com ela - porque no fundo é um casulo amarelo e quente no qual me abrigo após um dia de provincianismo. Naqueles momentos em que recebemos toda a espécia de visitas lá em casa, não sou obrigada pelas regras do bem receber a "fazer sala" contrariada. A Paula salva-me sempre.
É que ela consegue ser naturalmente simpática, e eu inevitavelmente torno-me tão boring... Não tenho talento para sorrisos amarelos, e como sou pouco dada a sinismos, prefiro resumir-me à minha falta de paciência e remeter os convivas para a querida Paula.

PAULA, obrigada por existires na minha vida e no Rego. Um bem haja, o meu coração está contigo.

Oh je suis trop bourrée pour baiser


Went to a party

I danced all night

I drank sixteen beers

And I started up a fight


But now I am jaded

You're out of luck

I'm rolling down the stairs

Too drunk to fuck


Too drunk to fuck

Too drunk to fuck

Too drunk, to fuck

I'm too drunk, too drunk, too drunk to fuck


I love your stories

I like your gun

Shooting out truck tires

Sounds like loads and loads of fun


But in my room

Wish you were dead

You ball like the baby In Eraserhead


Too drunk to fuck

Too drunk to fuck

Too drunk to fuck

I'm too drunk, too drunk, too drunk to fuck


Too drunk to fuck Hmm

Too drunk to fuck

I'm too drunk, too drunk, too drunk to fuck


Oh je suis trop bourrée

Pour baiser

Nouvelle Vague hoje no Casino de Lisboa

Eles são mesmo uma Bande à Parte, capazes de estimular os ouvidos mais cépticos e fazer abanar a anca dos mais reticentes. Too drunk too fuck é uma ode maravilhosa àquelas noites decadentes, estilo estrela rock dos anos 80 em fim de carreira, em que o título faz todo o sentido...

I melt whit you também me arrepia, pelo lirismo que conseguiram dar à coisa... Fico com uma vontade enorme de ir para casa, e ficar a derreter debaixo dos cobertores, em boa companhia claro. I'll stop the world and melt whit you... tra la la...




05/12/2007

GROUND ZERO

Este blog que agora começa tem início num dia especial: 9 meses passados sobre o dia em que perdi a minha mãe. E é também nesta altura que está para começar uma nova e excitante fase, a realização de um sonho quase tão antigo como eu: o voluntariado. Após os primeiros contactos e a apresentação da candidatura, soube agora que fui seleccionada para realizar voluntariado em Skopje, Macedónia. Um país relativamente jovem e sobre o qual nada sei. Vou completamente à descoberta...

Por ser um 1º post, o texto ainda não flui como seria esperado...

Até...