11/12/2007

...16, 22, 21, 18, 15...


Ela não teria mais que 15 ou 16. Estávamos ambas na paragem do autocarro. Olhou-me altiva, e senti nela a inveja pelos meus 22 anos que não podia adivinhar, apenas estimar.

Ela não sabe, não pode sequer imaginar o que contêm os meus 22 anos. As mágoas, perdas, desilusões, solidões que marcaram os meus 22 anos. Mas imagino que, aos seus olhos, eu seja uma adulta independente, auto-determinada, emancipada, capaz de decidir o meu rumo e fazer as minhas escolhas. Mas desconhece os meus medos e as minhas angústias.

Também eu, com a sua idade, invejava os 22 anos dos outros, auspiciava a essa liberdade trazida pelos 18, sem imaginar as dúvidas e incertezas reservadas para os 21. Hoje, com 22, invejo eu a liberdade dos 16.

Números apenas, mas estados de vida tão distintos, singulares.

Nunca mais fui tão livre como quando tinha 16 anos. Livre de horários, de responsabilidades, de pessoas. Tomara eu voltar a ter os meus issues de 16 anos. Discutir com a minha mãe para poder ficar só mais uma hora naquele bar, discutir com a minha mãe para poder namorar com o Pedro, discutir com a minha mãe o nosso parco poder de compra, discutir com a minha mãe pelos motivos mais ridículos e egoístas e que na altura me pareciam a maior causa do mundo.

Hoje percebo o quão vazio é esse egoísmo tão sixteen typical. Ainda assim, fui feliz, assim egoísta.

Queria ser livre outra vez. Queria ter 16 anos.

P.S. - Com 6 anos, eu achava que era perfeita, por oposição às minhas amigas da primária. Achava que era a filha, a neta, a irmã e a amiga perfeita.
Tinha, portanto, a convicção mais estúpida de sempre. Com 6 ANOS. Estupidez precoce, está visto.

2 comentários:

Maria del Sol disse...

Desculpa a intrusão no teu espaço, mas não pude evitar a sensação "dejá vu" quando li este texto.

Também me deparei com o mesmo tipo de olhares vindos de miúdas mais novas, mas a minha percepção é um bocado diferente: ao pensar em mim aos 16 anos, com o micro-cosmos por onde me mexia, e as minhas preocupações tão simples, acho que apesar de todas as angústias e tristezas que acumuladas não troco a minha vida actual pela de adolescente. Queria, isso sim, saber o que sei hoje, aos 22, aplicando-o naquela altura. Para dar valor à vida despreocupada que levava. Mas obviamente não se pode ter tudo ;)

Maria del Sol disse...

Só agora, já com o comentário publicado, é que reparei que me tens nos links. Muito obrigada :)