20/05/2008


Meritocracia - s.f. Sistema (p. ex., educacional ou administrativo) em que os mais dotados ou aptos são escolhidos e promovidos conforme seus progressos e consecuções; sistema onde o mérito pessoal determina a hierarquia.


Muito bonita, a língua portuguesa. Muito mesmo, até me emociona. Ainda mais depois da lavagem cerebral a que fui submetida nos últimos 4 anos e em que nos querem fazer crer na meritocracia. Um mito muito bem construído pela democracia. No qual ainda tive a boa fé de tentar acreditar. Eu tentei, juro que tentei. Mas o mito cai por terra, quando vou à Câmara Municipal da Lourinhã, e vejo gerações, pais e filhos, trabalhando lado a lado, numa linda moldura familiar. Ou o filho do médico x e do empresário y. É a sucessão familiar no seu estado mais puro, como se de uma monarquia se tratasse.


O mesmo sucede na reputadíssima faculdade que frequentei. Abre concurso público para a minha área de licenciatura e, surpresa das surpresas, é colocada nessa mesmíssima vaga uma ex-aluna que lá ficou a estagiar logo após a conclusão da licenciatura.


Colégio da Europa: Abrem 4 vagas para alunos bolseiros. Numa instituição prestigiada como é o dito Colégio, seria de se esperar uma ainda maior isenção e, claro está, aplicação da meritocracia, dando crédito às notas dos alunos a concurso. Coincidência das coincidências, um dos candidatos a concurso foi estagiário/colaborador de um dos entrevistadores. A média do candidato a curso andaria à volta dos 15 valores, no máximo 16. E de certeza absoluta que entre os restantes candidatos, muitos deles teriam médias bem superiores. Mas, surpresa das surpresas, é o dito aluno com a média de 15 um dos privilegiados com a vaga num dos colégios mais caros da Europa.


Uma das Embaixadas de Portugal algures no Velho Continente, com mais um estagiário: Gostamos muito de si, mas de momento os recursos orçamentais são escassos. Para o mantermos cá, terá que ficar até Outubro sem remuneração, altura em que seria "seleccionado" num concurso público. E esta, hein? Ele naturalmente não ficou, porque viver numa das capitais mais caras da Europa sem ganhar um tusto não é para qualquer um.


Pergunto-me eu, porque raio ando a gastar dinheiro em selos, envelopes, fotocópias e afins, na vã esperança de conseguir um cargo numa instituição pública, quando é o Factor C que dita as regras no nosso país!?


Não tendo Albuquerque, Amorim ou Vasconcelos no nome, fica difícil convencer algum empregador deste país a olhar sequer para o meu currículo.


Outra situação que acho intolerável são as condições para estágios no PEPAL. Para quem desconheça, decorrem na administração pública e aufere-se qualquer coisa como 2 salários mínimos nacionais. O que é extremamente injusto para pessoas na minha situação. Quem lê o blog sabe perfeitamente que a minha mãe faleceu. Nessa condição, tive que de imediato começar a trabalhar, caso contrário neste preciso momento já teria morrido de fome... Isto em português, dá qualquer coisa como: uma vez que tive que começar a trabalhar (para sobreviver!), não posso disfrutar dos prestigiadíssimos estágios do PEPAL, hipotéticas portas de entrada para o mercado de trabalho na minha área. Desculpem lá, Sr. Presidente da República e Sr. Primeiro-Ministro, se o Estado Social neste país é um mito, se para não morrer de fome, tenho que trabalhar, e se por já trabalhar, não posso fazer os vossos estágios! Sim, porque para se concorrer, é necessária uma declaração do IEFP, da Segurança Social e das Finanças onde se comprove irrevogavelmente que não se está a trabalhar.


Apetece-me tanto pedir-lhes que metam os estágios no cú!

10 comentários:

Anónimo disse...

Tenho vindo a acompanhar esse teu esforço e de outros na busca d eum trabalho e sim é muito difícil.
Mas pessoas como tu, cheias de talento conseguem ,mais tarde ou mais cedo, singrar!

Eu não te deixo morrer à fome!=P

*

rv disse...

eu acompanho infelizmente nas escolas o drama dos estagiários, é mt mau em especial pq a mão-de-obra fica mais barata e no final não se contracta o funcionário p a instituição pq não há lugar.

coragem, bjs

Estrelaminha disse...

parar é morrer. ;-)
a oportunidade vai chegar.

Maria del Sol disse...

Pior do que os estágios mal remunerados são os estágios de borla, só para fazer currículo (estes últimos são quase a regra para quem tira o meu curso).
Depois admiram-se que se fique até quase aos trinta anos a viver na chamada "pensão dos pais" ou a acumular dois ou três empregos ode se ganha mal e porcamente para poder dar vazão às contas todas.

Mas não podemos desanimar, temos de continuar a tentar, confiando que mais tarde ou mais cedo há-de surgir alguma oportunidade que valha a pena. :)

Beijinhos e força!

Jaime disse...

A vossa geração, a dos que está agora nos vintes, é se calhar a primeira dos tempos recentes cujas perspectivas de vida não são melhores que a dos pais... O teu depoimento documenta isso mesmo. E isso é lixado, e convém ser denunciado, porque as coisas nunca são necessariamente como são.
Mas não desanimes, rapariga, que a gente que te lê apercebe-se do teu valor! :-)

Sorrisos em Alta disse...

Se calhar sem queres, juntaste muito bem o início do post com o final. A língua portuguesa e o cú.

Por cá, é a lamber cús que se sobe!

pombamarela disse...

Apesar eu ser de apelido Amorim :s (mas não é da mm família) acho que tens toda a razão, há realmente situações muito injustas, e para quem procura trabalho ainda é mais desgastante e desanimador. Já agora, qual é a tua àrea de formação?

tiagwho disse...

Been there, done that, have the t-shirt... Bora emigrar para o primeiro mundo???

Anónimo disse...

Denga,isto algum dia tem de cair alguma coisa po nosso lado! :) tou contigo bich! **

Anónimo disse...

Pois, podia até confirmar essa situação, de que para se ter acesso a um estágio de 9 meses do IEFP é preciso abandonar o emprego. Podia também falar dos protocolos entre o estado e as empresas, para aceitarem trabalhadores que arranjem uma declaração de 1º emprego, em que metade da remuneração é paga pela a empresa a outra metade pelo estado, numa medida de integração dos jovens no mercado de trabalho, mas o estado sabe bem que ao fim de 18 meses nenhuma dessas empresas renova o contrato para não ser obrigada a passar jovens a efectivos, para onde foi o investimento do estado em supostas políticas de emprego? Até em relação ao Post do SNS, podia falar de como se arranja médico de família por cunhas. Sabemos bem como os patamares mais altos da sociedade estão completamente minados de lobbies, numa premiscuidade e cumplicidade entre de sector público e sector privado, com filiações partidárias à mistura. Separação entre poder lesgislativo e poder judicial? Só no 6º ano, na disciplina de História e Geografia de Portugal. Mas para além de não estar a dar novidades, corria o risco do Ministério Público voltar a processar-me por ofensa às instituições estatais, não por uma questão de censura, por uma questão de protecção do estado e da democracia,portanto prefiro não comentar a situação, e talvez imigrar (exilar-me).
Exagerado este comentário? Perguntem a quem sabe.
Saudações do mais inexistente ;)