Uma semana depois de um silêncio inexplicável, o telefone dela tocou. Gostava de saber se ainda me emprestas o mapa de Berlim e os guias. Atónita, sentiu-se estremecer quando o nome dele surgiu no visor do telemóvel. Sim, podes passar, vou estar em casa. Mas não sabia com que forças iria abrir a porta, com que postura, com que dignidade. Depois do silêncio que a massacrara durante toda a semana. Não fora de ânimo leve que a ignorara durante aqueles 7 dias. Cicatrizes passadas levavam-no inconscientemente a adoptar esse tipo de comportamentos, como se colocasse um penso numa ferida já sarada. Só por precaução, não vá a ferida abrir outra vez. Mas ela desconhecia esse padrão próprio só dele, e deixara-se ficar, inibida pelos seus próprios medos e frustrações.
Ele pintara para distrair o pensamento da linda cabeça encaracolada dela. Ela dançara pelo quarto agarrada ao Ipod, procurando abstrair-se do intelecto dele, que achava tão irritantemente sexy.
O mapa e os guias eram o único pretexto convincente que ele encontrara para poder abordá-la de forma discreta e pouco óbvia. Ao que ela naturalmente anuira, pois também queria saber o que o desenrolar da história lhe reservara.
Horas estranhas eram apanágio dele. Coisas de artista. A campainha soou ainda não eram 4h da manhã, apanhando-a desprevenida, chávena de chá na mão direita, cigarro na outra. Abriu a porta a medo, curvada sobre si tal era a ansiedade que lhe pesava. Ele, intuitivo que era, sentiu-lhe o tremor involuntário e apeteceu-lhe abraçá-la, apertá-la contra si, fazê-la perceber que ele sentia o mesmo. Impelido por esse desejo, recalcou-o no mais fundo de si. Olá, E. ... Tens um chá para mim também? Ela esboçou um sorriso, ele passou a soleira da porta, e deixaram-se cair no sofá.
Até de manhã.
12 comentários:
que familiar que isso me é.
e que bem que tu escreves.
em vez de ter "uma lágrima no canto do olho", tenho um sorriso na ponta do lábio. *
Eu sei que tu sabes* Obrigada por (tu sabes)...
Beijo*
mulher, tu escreves maravilhosamente.
tb tem qq coisa de familiar cmg, ou então sou eu hj que estou estupidamente susceptível e tudo me faz lembrar tudo.
heh...
Os artistas, os artistas...;) Gostei dela. (e nem por acaso, estas férias passarei uns dias em Berlin)
beijo
Gosto da perspicácia com que desconstróis as razões do coração. É graças a posts como este que me sinto feliz por passar várias vezes seguidas pelo teu blog. :)
Os artistas são do caraças... porque é que também me revi neste texto? Café para quando?
nem de propósito...chavena de chá na mão esquerda e cigarro na mão direita;)
adoro ler-te menina do nome esquisito...vou-me lendo e relendo nas entrelinhas! pinta o amor nas paredes...pinta-o onde sentires vontade...mas sente-o!;)
beijinhossss
Isto está muito bem apanhado, muito bem escrito, muito bem descrito. Parabéns.
está isso tudo. mas para mim ainda está melhor.
Para ti está melhor, Ema, porque tu sabes. E são mesmo muito pouquinhos os que os poderão sentir como nós. Praí uns 2 ou 3 =)
2 ou 3, sim.
coragem p todas as histórias de amor, seja qual for o final,
:)
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