24/03/2008

Momento raro no nº 3 da Via Marcantonio Odescalchi: Domingo de Páscoa e nem vivalma pela casa. Uns para Sul metidos em almoços de família, outros a Norte, enfiados numa qualquer fila de museu em Florença. E eles os dois, com a casa só para eles. Porque a ocasião assim o justificava, lá cederam ao cliché: acordaram a horas (para eles) pouco próprias e lá rumaram à Piazza San Petro, ouvir a benção papal num português abrasileirado mal ruminado. Cumprido o ritual, voltaram a casa ensonados, sozinhos, deixados para trás por todos os que tinham ido de férias. Dividiram as horas entre o sofá e a cama, entre goles e bafos inconsequentes, vestiram-se e despiram-se vezes sem conta, até cairem no marasmo de um Domingo de Páscoa atípico e muito pouco católico. Lembraram-se de apanhar o comboio da meia-noite para Veneza, passarem lá o dia. Boas intenções, óptima ideia. Mas deixaram-se cair mais um pouco no sofá, indefinidamente, menos uma peça de roupa, mais um beijo (pouco) inocente no pescoço. Mais um cigarro, mais um copo de vinho, e a roupa sempre em desvantagem. E o tempo a passar. Quando finalmente conseguiram sair de casa (leia-se sofá), quando finalmente conseguiram soltar os lábios da pelo um do outro, lá foram para a fermata, onde esperaram por tempo indeterminado o tram que os levaria a Termini e, por fim, a Veneza. Mas o tram nunca mais chegava. Nem eles chegariam a Veneza. Resignados, lá voltaram a casa. Resignados, lá tiraram a roupa mais uma vez. E puseram fim ao Domingo de Páscoa menos ortodoxo de sempre... nus.

1 comentário:

Ema disse...

será que o Vaticano tem blog? ia recomendar o teu. e causar furor :)