18/02/2008

Hoje sou como Pessoa, finjo somente...

Hoje apetece-me dedicar-me esta Interrogação, do Camilo Pessanha, um dos meus poemas favoritos do autor.

Apetece-me fingir que alguém me disse estas palavras.

Que alguém adoece de sentir-me doente.

Que o meu sorriso é quase um sol de inverno.

Vou fingir. E gosto da sensação.


Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente

1 comentário:

Ema disse...

"play movies in our heads..."

é bom fingir. melhor, é bom imaginar. desilude a seguir, já com os pés na terra, mas aguça a creatividade.

"que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente."