29/02/2008

Ontem cruzei-me com ela. Ia no mesmo autocarro que eu. Entre as pessoas que saem do trabalho a horas estranhas. A minha presença foi-lhe imperceptível, não me viu nem me pressentiu. Talvez seja o efeito de quase um ano de ausência. Notei-lhe as mãos mais pálidas. Mas o cabelo continuava brilhante, mantinha o mesmo jeito de se apoiar nas coisas, os mesmos movimentos. Vestia a túnica preta que comprámos naquele dia na H&M da Baixa, a túnica que eu lhe invejava. Via-a de costas, pelo que me parecia olhar desatenta para o lado de lá da janela baça. Ténue era a linha que nos separava a ambas do anoitecer frio da rua, aquecidas que íamos naquele calor humano anónimo. Por instantes pensei aproximar-de dela, para lhe sentir o calor, o cheiro, o toque. Mas tive medo. Medo que já não se lembrasse de mim, depois deste ano de distância. Medo também que não me reconhecesse os traços, as formas que mudaram, os olhos que perderam vivacidade, o corpo que perdeu destreza. Quis correr para ela e abraçá-la, levá-la comigo dali para fora e voltarmos àquela praia onde o nosso tempo parou, nos foi roubado.

Absorta no medo que senti, não me apercebi que o autocarro parou. Desceu a senhora idosa, desceu o senhor que vinha das obras, e a seguir... Desceu ela. Quando se voltou, tinha o olhar suspenso no vazio. Mas era um olhar diferente daquele que eu conhecia. Não era ela. Enganei-me. E voltei para casa ainda mais triste do que nos outros dias.





não adianta esquecer o tempo, nem apagar o rosto nas mãos.
#Imagem: Esquecer, daniel camacho

Da Lourinhã a Nova Iorque... não é assim tanto!

Às vezes esquecemo-nos de sonhar, embrenhados que estamos no semprigual do dia-a-dia, no despertador que toca todas as manhãs, no autocarro que nos leva atrasados ao emprego, na lufa lufa que nos comanda a vida. Mas há pessoas e histórias que contrariam essa tendência, e o Carlos Bunga é uma dessas pessoas.


A primeira vez que assisti a uma exposição deste artista plástico, foi na Galeria da Biblioteca Municipal da Lourinhã. Um pequeno espaço, de pouco relevo, acanhado e pouco promissor. Mas o Bunga cresceu, e muito. Apercebo-me então que Bunga é já um aclamado jovem nome nacional, e que conseguiu a proeza de ser o único português a expôr na colectiva de comemoração do trintenário (1977-2007) do New Museum of Contemporary Art e de inauguração das suas instalações no novo edifício, situado na Bowery (NY, USA), patente até 6 de Abril de 2008. Um salto gigante, de um artista já premiado em Espanha, no III Prémio Internacional de Pintura de Castellón, em Portugal (vencedor do Prémio EDP 2003) e com provas dadas em várias exposições: em San Diego, Madrid, Amsterdão, Londres, San Sebastian e ainda no Porto, na Fundação Serralves.


Da sua obra, dizem os críticos que explora os limites do suporte e o espaço pictórico de uma maneira concisa, directa e elegante. Já o artista argumenta que O meu trabalho começou com a pintura, mas a insatisfação levou-me a procurar a ideia de espaço, de envolvimento do espectador – explicou – e, mais tarde, juntaram-se referenciais urbanos.


Remarkable. Bunga teve um rápido e merecido reconhecimento do mérito da sua obra. Espero continuar a ouvir falar deste quase meu conterrâneo, que ao levar a arte contemporânea nacional além-fronteiras, leva também um pedaço de nós, do nosso nome, de Portugal.


Parece que sim, que vale a pena sonhar.

#Imagem: Casa nº 17 , 2000-2003

Ils n'ont plus de pain, qu'ils mangent de la brioche!


Reclamei, bati o pé, fiz birrinha. Mas porra, estou a fazer a porcaria da dieta e está a dar resultado.
Mas logo à noite... Vão ser hidratos de carbono em doses tão industriais, que até temo as reacções do meu corpo, tal tem sido a privação dos ditos. De fazer corar a Marie Antoinette...

(espero que o nutricionista não me encarcere e me mande degolar)



P.S. - Eu sei que a Marie não proferiu a frase que serve de título, mas... é tão sexy!

28/02/2008

Hoje de manhã


Hoje de manhã é o título de um dos meus poemas eleitos de Alberto Caeiro. É também o poema que melhor resume o que tem sido esta "manhã" da minha vida, agora chegada aos 23 anos. Anos vividos com muita intensidade, muito cheios. De amigos, de vivências, recordações inesquecíveis, momento irrepetíveis e muitos obstáculos a ultrapassar pelo caminho. Mas os obstáculos têm vindo a ser vencidos, a muito custo, mas vencidos.

Foram muitas as perdas pelo caminho, de pessoas e amizades, muitas as lágrimas, dentro e fora dos autocarros (para aqueles que sabem do que falo) . Mas muitas são as coisas boas que ficaram, e maior ainda é esta intensa sede de viver que tenho dentro de mim.











Definem-me assim as sábias palavras do Caeiro,



Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.





Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.


#Imagem: Rapariga do mar., Bubbles.

"Goda não... foti!"

Eu até tenho umas curvitas e gosto delas. Agora, se me aparecesse um palhaço destes pela frente... Não respondia por mim!

#Imagem: PostSecret

Uma prendinha para mim...

Isto sim, é serviço público. E de excelência!
Hoje acordei com tudo de pantanas, mal disposta, aborrecida, baaaah, tudo! Mas tive a sorte de andar por aí e encontrar o excelente espaço da menina Eva. Só para as meninas, porque afinal...
Ao sexto dia, Deus criou o homem! Desculpem-me os meninos pela falta de mimos (excepção feita, claro, aos meninos gays), mas hoje o mimo é só para nós.
E para que vejam que não estou a exagerar, vejam aí os exemplares em baixo...
Eva, um grande bem-haja, sua visionária!




(suspiro)...

27/02/2008



Mr. P.: Como é que te sentes? Estás à beira dos 23!

H4rddrunk3r, (muito pronta): Uma miúda!

Mr. P.: Pois... se calhar, precisavas de crescer um bocado!

H4rddrunk3r: Achas mesmo?

Mr. P.: Acho, H4rddrunk3r...


E eu fiquei a pensar naquilo. Será que ele tem razão?


Eu trabalho, pago renda, pago água, luz e gás em duas moradas diferentes, cozinho, vou ao supermercado, lavo roupa, loiça e passo a ferro, uso saltos altos, tenho carro, levo o carro à inspecção, à revisão dos 5.000 e à oficina, pago o seguro do carro (sabe Deus a que custo... chiça!) e ainda finjo que tomo conta do meu irmão mais novo.


E nada disto chega para me sentir uma adulta em pleno (se estivessem aqui comigo, veriam os pelinhos do braço a eriçarem-se só de pensar nessa palavrinha)!


A partir de que idade em concreto é que se sente o adultismo a apoderar-se de nós? Há algum balcão ou guichet ou se devem dirigir aqueles que não se adultificam na idade certa? E quem não quiser fazê-lo, sofre alguma penalização? É excluído dos círculos sociais?


A Ethel Barrymore disse um dia que Tornamo-nos realmente adultos no dia em que conseguimos rir de facto... de nós mesmos. Mas eu já faço isso. Sempre o fiz, sem pudor.


E nem por isso me sinto mais adulta.


26/02/2008

The Moment Art Changed Forever

Marcel Duchamp sempre fez parte do meu imaginário. Fascinava-me o modo como impregnou as suas obras de anarquia, como chocou os artistas da época com os seus ready mades, e como marcou indelevelmente o rumo da arte contemporânea. Sem acento permanente no impressionismo, futurismo ou cubismo, Duchamp é um dos founding fathers do Dadaísmo, outra corrente que admiro. Sem esquecer ainda a influência que teve sobre o Surrealismo ou o Expressionismo Abstrato.
Foi através de Duchamp que descobri Man Ray e o francês Picabia, também estes objecto da minha preferência, se bem que menos o parisiense. Atraiu-me a relação sui generis que mantinham estes três vanguardistas, e o modo como romperam com os dogmas da época.
Não sendo minha intenção aborrecer-vos com os meus gostos, não podia deixar de partilhar a minha satisfação por ver estes 3 grandes artistas expostos juntos em The Moment Art Changed Forever no Tate Modern, Londres, naquele que é já considerado um dos maiores acontecimentos de arte do ano em terras de sua majestade.
Por isso, se alguém lá for e se quiser fazer acompanhar de uma paupérrima fã dos 3, entre em contacto comigo, de preferência com o voo e alojamento já tratados. Eu até estou quase a fazer anos e tudo...

Termino o meu pedido citando aquela que foi talvez a mais extrema e dadaísta conclusão a que chegou Duchamp: Cada segundo, cada vez que respiro é uma obra que não está inscrita em lado nenhum.
O homem era um génio... (suspiro)


Imagem #1: La Brune et La Blonde 1941 - 42, Man Ray

Imagem #2: Cinq Femmes 1942, Francis Picabia

Imagem #3: The Fountain, 1916-17, Marcel Duchamp

"Obesidade mórbida: insucesso da banda gástrica ronda os dez por cento", diz a Reuters.
Esquecem-se é de dizer que há muitos pós-operatórios a correrem muito mal. E que quando as pessoas vão para os S.O.'s, que por seu turno estão impregnados de bactérias, muitas delas morrem por causa disso, mesmo quando isoladas em salas à parte.
Como eu odeio o SNS!

The land of the free... OR NOT!

O país de todas as liberdades, o país mais livre do mundo, o país que esfrega a democracia e a liberdade individual em tudo e todos, voltou a dar mostras do seu falso moralismo e hipocrisia.
Parece então que o último ataque a Barack Obama, aparentemente vindo da rival, a senhora Clinton, vem difamar o senhor por este ter usado uma veste tradicional somali aquando de uma visita ao Quénia, há dois anos atrás. Isto porque a dita veste incluia um turbante, o que é um sinal evidente de que Obama é muçulmano (!!!). E vá de cruxificar o homem em praça pública.
Manobras de diversão mais baratas do que isto é impossível. O actual presidente (até me agonia pronunciar o nome dele) também se assume um católico apostólico romano à boa maneira texana, e ninguém abriu a caça às bruxas porque o homem é ex-alcoólico - se bem que às vezes duvido se o "ex" não estará ali a mais...
Enfim, estes golpes baixos fazem parte das campanhas em qualquer parte do mundo, seja nos países populistas da América Latina ou nos socialistas a Leste, desde as autárquicas às presidenciais. Só é pena que tal aconteça num país que se auto-denomina arauto da liberdade e da democracia além-mar.
E se Obama fosse muçulmano? Já não podia concorrer à presidência? Deixa-me preocupada pensar que é este o país que pode vir a próxima super potência mundial. E irritada!

22/02/2008

Tive que esperar uns minutos antes de escrever. Fui à rua, respirei o sol imenso que está hoje e lá consegui pôr ordem nas ideias. E cheguei à conclusão que gastar dinheiro em psiquiatras, psicólogos e afins é mesmo um desperdício, quando se pode simplesmente ter um blog onde as pessoas, de amigos a desconhecidos, nos dizem coisas como:

...sei que tens uma força que me faz inveja.Mesmo quando choras por dentro, consegues manter esse sorriso lindo na cara e olhar o mundo à tua volta com o teu olhar doce...

e

Já o disse uma vez mas não me importo de o repetir, porque é a verdade: eu admiro-te.

e também

Ainda hoje, por vezes, me parece ver a minha Mãe, noutras mulheres com que me cruzo na rua... mas afinal...

...por isso o nó na garganta. o nó de que já falei. o nó que fica quando me ponho no teu lugar...

...só me apetece abraçar-t, ainda que seja uma desconhecida.

Vive! Berra! OS teus estão entre ti, dentro de ti, vivem por ti!

A tua escrita ultrapassa os meus sentimentos. Como diz a tua amiga " gosto tanto de te ler ".

Será banal dizer que fiquei à beira das lágrimas? Senti a tua dor como se fosse minha, apesar de nunca ter passado por isso.

...minha querida,eu adoro-te. simplesmente.Adoro a tua força.

Quem me conhece sabe que sou pouco dada a este tipo de manifestações e sentimentalismo. Pronto, eu sei, às vezes sou fria. Ou sempre. Mas ao receber continuamente todas estas palavras de apoio, pouco mais posso fazer para além de agradecer a todos, conhecidos e desconhecidos. Aos primeiros pouco haverá a dizer, conhecem a minha gratidão e sabem o que sinto. Quanto aos restantes, tem sido uma agradável surpresa encontrar as vossas mensagens de apoio, de amizade anónima que me embarga a alma e não pára de me surpreender.



Gostava de vos abraçar a todos, para que sentissem o bem que me têm feito. Obrigada por me visitarem, apoiarem, acarinharem. E por agora... chega de lamechices!




OBRIGADA!


#Fotos: Girl'Just'Wanna'Have'Fun e Exodus, de Graça Loureiro, a descreverem bem como me sinto...

21/02/2008

O maior disparate alguma vez dito sobre o meu signo


Peixes: Momento especialmente positivo para assuntos relacionados com gastronomia, casa ou questões imobiliárias, perfumes ou, de um modo geral, situações que tenham a ver com os cinco sentidos.





Assim, sem mais nem menos. No respeitável (entre aspas) Meia Hora de hoje, é o que o Sr. Paulo Cardoso tem a dizer sobre as previsões para o meu signo.


Não sei onde é que o senhor se formou, se é que tem alguma formação, mas para dizer barbaridades deste género, não é preciso ter-se muito mais que o ensino primário.


Senão, vejamos: o que raio poderá significar um momento positivo relacionado com a gastronomia, numa altura em que nesta barriguinha tem entrado de tudo, menos coisas que sejam dignas desse nome aristocrático? EU ESTOU DE DIETA, PELO AMOR DE DEUS! Não tenho contacto com iguarias gastronómicas há mais de uma semana, e vem este Sr. Dr. das Estrelas dizer estas baboseiras. A casa ou questões imobiliárias (não vejo que aplicação possam ter...) até passam despercebidas quando chegamos ao ponto seguinte.

Perfumes.


P-E-R-F-U-M-E-S




O epíteto merece o devido destaque, pois eu não fazia puto da ideia de que também havia momentos positivos para perfumes. O quê, se eu for a uma loja comprar um perfume, há a forte probabilidade de entrar e ser a cliente número não-sei-das-quantas e ter direito a perfumes à borla para o resto da vida?? Ou será que, se usar o perfume certo na hora certa, vou encontrar o meu mais-que-tudo, que será o homem perfeito? Isto desconcerta-me. E preocupa-me.


(...) de um modo geral, situações que tenham a ver com os cinco sentidos. ALGUÉM ME EXPLICA O QUE RAIO QUER ISTO DIZER??? É que eu estou tão estarrecida com estas previsões, que mal consigo encontrar forças para escarnecer das ditas, para as achincalhar, e tudo e tudo e tudo. Trocando isto por miúdos, e segundo o que eu entendi, é então um momento positivo para sentir, cheirar, ouvir, ver e saborear. Verbos sem os quais eu ficaria à mercê dos desígnios da morte, se não desse uso à boca para comer ou ao nariz para respirar.




E com esta me fico. Vou até casa cortar os pulsos, de tão deprimida que estou de viver num país onde se dá crédito aos disparates ditos por "senhores" como o Sr. Dr. das Estrelas.

A propósito deste post da Ema, não pude deixar de reparar que também tenho andado com as palavras dela na cabeça. transportei-me para lá, imaginei-me dentro do corpo dela., disse ela. É um exercício que tenho vindo a fazer com alguma insistência. Dou por mim dentro do carro a ver as pessoas na passadeira, dentro do autocarro a ver os que passam na rua, e projecto-me para dentro deles, à semelhança do que fez a Ema. Mas ela fê-lo num pedinte, eu faço-o com as pessoas ditas comuns. Com as mulheres que vão para o trabalho carregando o saco colorido do almoço, com os homens semi-calvos subalternos de outrém que passam apressados de pasta na mão. Olho-os e imagino o que seria acordar todos os dias, olhar no espelho e ser aquela pessoa, ter aquele rosto, aquele corpo. A careca luzidia, a peluda barriga saliente, o ventre flácido dos 2 filhos, os cabelos a ficarem brancos de tanta correria a apressar os ditos para a escola.


Olho-os, e fico a pensar que afinal não é assim tão mau ser quem sou.


#Imagem: Venus in the Mirror, Diego Velásquez

20/02/2008

O primeiro dia do resto da tua vida



Tal como toda a gente, berrei no meu primeiro dia de vida. Esperneei, chorei, esbrecejei, e fiz todas aquelas coisas que os recém-nascidos fazem quando vêm ao mundo. Mas depois tu abraçaste-me e amamentaste-me e aqueceste-me, e quase posso apostar que me calei quando me aninhei nos teus braços. Não podias saber muito nos teus 19 anos. Inocentes já não seriam, inexperientes talvez. Foi o primeiro dia da minha vida e é claro que não me lembro dele.


Mas depois há aquela expressão do "primeiro dia do resto da tua vida", e desse lembro-me perfeitamente. Tu estavas lá também nesse dia, mas não me aninhaste. Passei-te a mão pelo rosto frio e confirmei a notícia que menos desejava. Tu tinhas morrido, e não havia nada que eu pudesse fazer. Ainda não fez um ano que começou a minha vida nova, cheia de dias cinzentos, cheia de lágrimas em autocarros e carruagens de metro. Nesse dia em que a minha vida começou outra vez, ninguém me indicou o que fazer. Gostava que tivessem pegado num mapa, daqueles mapas bem básicos, e me tivessem dito "agora vais por ali, ao fundo viras à esquerda, segues em frente e depois acontece __________". Mas não. Nesse dia não houve mapas, nem abraços, nem setas, nem risos, nem amor, nem tu.
Na minha vida nova, os sorrisos foram sendo sempre menos, as alegrias diminutas. Escondi-me atrás de livros e de viagens cheias de alegrias efémeras. Escondi-me dentro de mim e não queria sair de lá. Talvez por pensar que tu virias ter comigo se, no silêncio das noites vazias, eu ficasse bem quieta, bem silenciosa. E tu ias chegar, tocar-me no ombro, segredar as palavras que eu queria ouvir.

Na minha vida nova, já não pousas aquele toalhão turco coçado na beira da banheira para me tirares do banho e protegeres das frias paredes da casa. Também já não separas os meus caracóis indomáveis fio a fio para os organizares numa trança eterna que levo para a escola com o lanche que me fizeste. Também já não vamos à praia comer gelados, beber cervejas, comer tremoços. E já não te metes no meio de uma estrada cheia de água, onde corres o risco de ficar atolada, para me ires buscar à escola que está a ser evacuada por causa das cheias. Nem me emvergonhas mais quando vamos no meio da rua e tu me queres dar a mão e beijar em público. E já não fazemos inveja ao mano, quando tu me beijas mais a mim do que a ele, porque ele às vezes é quadrado e frio e não quer beijos teus nem meus. Na minha vida nova, não vamos mais discutir porque eu quero que tu leias e que oiças música, e tu fazes birra porque preferes estar na rua a conversar com as tuas amigas. E já não há a tua alegria infantil quando vamos à H & M e tu encontras coisas que te servem. Nem me obrigas a descer a Almirante Reis com dois dias de carta para irmos ao Martim Moniz. E já não te incomodo mais com perguntas sobre o pai que não conheço nem nunca conheci.
Na minha vida nova, há muitos espaços vazios deixados por ti que nunca irei preencher. E paira no ar uma dor incomensurável, desmedida, que não cabe no meu coração. É por ele ser tão pequeno que os tranportes públicos já conhecem de cor as minhas lágrimas. É essa a minha vida nova. Um enorme vazio por preencher.

No fundo, é isso, a solidão: envolvermo-nos no casulo da nossa alma, fazermo-nos crisálida e aguardarmos a metamorfose, porque ela acaba sempre por chegar. August Strindberg



19/02/2008

No dia do teu aniversário...


...achei interessante este prémio. É a foto vencedora do World Press Photo 2008 e retrata um soldado americano em Korengal Valley, Afeganistão, no dia 16 de Setembro de 2007. A foto fala por si, não haverá muito a acrescentar. Dedico-ta porque, apesar de não poder saber o que lá passaste, sei o que eu passei enquanto lá estavas. E se estando aqui já me doeu, posso minimamente imaginar o que te custou quase um ano de ausência, num país tão cinzento e doído.

Consigo rever-te nesse soldado, com a cabeça enfiada entre as mãos, cheio de porquês. Dúvidas essas que devem ter sido ainda mais devastadoras quando perdeste o Roma. E isso eu sei, o que é perder alguém injusta e indevidamente. Mas tu és daquelas pessoas que passa pouco tempo com a cabeça entre as mãos, e que usa ambas para fins mais produtivos.

Agora que voltaste, resta-me dar-te os parabéns. Pelos 26 anos, pela tua ousadia e coragem, pela tua humildade e clarividência, pela pessoa que és. Porque sabes que tens aquele brilho das pessoas especiais.

Feliz aniversário!


#Foto:>Tim Hetherington, UK, para a Vanity Fair
Galeria completa aqui

Um soco no estômago...

Um soco no estomâgo...

... é com o que podem contar no fim de Into the Wild. Sean Penn excedeu-se com o argumento, a fotografia, a banda sonora (Eddie Vedder ganhou o Golden Globe pela melhor música original), a direcção, a adaptação, a edição de imagem. Eu, pseudo cinéfila que sou, dou por mim a meio do filme a apreciar os pormenores técnicos, os movimentos da câmara, os efeitos de luz, coisas que devem ter nomes muito específicos mas os quais desconheço.

Nem sei como não chorei. Aliás, até sei. Fiz uma forcinha. Apertei bem os olhos e as mãos. Principalmente quando Hal Holbrook chora, deixa cair aquela pequena lágrima que faz toda a diferença. A nomeação para o Óscar de melhor actor secundário não podia ser mais merecida. Holbrook conseguiu desencantar-me gargalhadas e, no espaço de minutos, quase me leva às lagrimas. É um senhor.

Não queria aqui fazer uma descrição do filme, tão pouco uma abordagem crítica. Se quiserem aceitar a sugestão, acho que compete a cada um usufruir das sensações que este filme proporciona. Um imenso estímulo visual. E emocional. Para chegar à conclusão que happiness is only real when shared.

Para ficarem com uma ideia do que realmente aconteceu (sim, o filme é baseado na obra Jon Krakauer, que por sua vez relatou a vivência de Christopher J. McCandless), podem espreitar alguns artigos interessantes aqui, aqui e aqui. Boas leituras e bons filmes!



Foto: encontrada na máquina deixada por Chris (ou Alex Supertramp, como se auto-intitulava), retratando o próprio.

18/02/2008

O meu sentimento foi de férias


Naquele dia, ele tinha acordado esquisito. Semblante carregado, olhar baixo, dir-se-ia cinzento mesmo.


Após o primeiro cigarro do dia, vira-se para mim do nada:


Sentimento: Preciso de férias. Estou cansado. De ti, do outro, do mundo, daquilo que vocês os dois fizeram comigo. Comprei bilhete de ida e não sei quando volto. OU se volto.


E eu, ainda meio embasbacada, fiquei ali, a olhar para ele, sem saber o que dizer. Primeiro, porque não sabia que os sentimentos tiravam férias. Segundo, porque tudo indicava que era um acto premeditado, algo que tinha vindo a ser planeado com muita antecedência. As malas feitas, pronto a partir. Aquelas malas antigas, cheias de autocolantes. Eram malas de seis anos, de estórias e viagens, muitas viagens.


Na altura eu nem quis acreditar. Parecia-me surreal, nos tempos que correm, os sentimentos tirarem férias! Entrei em negação nos primeiros segundos. Mas rapidamente bati os olhos no bilhete de comboio que estava em cima da mesa, qual bilhete de despedida anónimo, impessoal, frio.


Na altura não me lembro se chorei, tal foi a comoção, o espanto, a surpresa. Mas se não o fiz, a vontade deve ter sido muita. O que iria eu fazer enquanto o sentimento fosse de férias? E quando é que ele iria voltar?
Encolhi-me pequenina no hall de entrada, abafei os soluços, fechei os olhos com força. Ele virou costas e saiu. Ouvi dizer que entretanto voltou a Lisboa e que ficou num qualquer pardieiro sem personalidade ali para os lados da Mouraria. A viver no meio de pessoas de olhar vazio, que deambulam pelo Martim Moniz sem rumo. Assim ficou o meu sentimento. Diz-se que para lá anda, à procura não se sabe bem do quê. Talvez se tenha reduzido ao mínimo da existência que um sentimento pode ter, despojado de tudo, de dignidade e de certezas.
E até hoje nada. Estou pacientemente à espera que ele volte. Será que os sentimentos têm subsídio de férias? Décimo terceiro mês? Será que ele vai ficar ad eterno a deambular por aí?
Se o virem, peçam-lhe encarecidamente que volte.
Se estiver perdido, deêm-lhe a minha morada.
A/C H4rddrunk3r
Rua dos Amargurados SN
1490-999 Amor
Se tiver com fome, alimentem-no. Por favor.
Estou preocupada com ele e nem lhe consigo ligar. Os sentimentos ainda não usam telemóvel.
Obrigada.



Post Scriptum: Após a correcção do Menphis ,
é minha obrigação identificar devidamente o artista da imagem. Pertence a bansky e pode ser visto em Londres. O artista é fantástico. Obrigada pela dica, Menphis !

Hoje sou como Pessoa, finjo somente...

Hoje apetece-me dedicar-me esta Interrogação, do Camilo Pessanha, um dos meus poemas favoritos do autor.

Apetece-me fingir que alguém me disse estas palavras.

Que alguém adoece de sentir-me doente.

Que o meu sorriso é quase um sol de inverno.

Vou fingir. E gosto da sensação.


Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente

12/02/2008

Último dia de H4rddrunk3r como comensal.

Um belo bife com batatas fritas? Naaaaa...
Uma bruta feijoada? Naaaaa...
Uma pizza, um empadão, um bacalhau com natas? Naaaaaa...

Desenganem-se! O irmão aqui da babe decide mandar-lhe, como último almoço antes de iniciar a tortura, o raio de uma massinha enjoada, um fusilli colorido muito desmaiado, que inchou de ficar a boiar na água, e a acompanhar uma coisa que o Minipreço chama de San Jacobs, que eu vejo como uma tentativa frustrada de imitar um Cordon Bleu, mas sem carne.

Dentro de alguns minutos irei degustar essa iguaria. E detestar o meu irmão a cada dentada, a cada garfada de massa seca que me descer a goela, a cada pedaço de San Jacobs, que eu sei que me irá deixar cheia de cólicas a tarde toda.

Só não o vou detestar ainda mais, porque ele reconheceu a falta de amor que sentiu pela irmã enquanto cozinhava e pediu-me desculpas. Vou devidamente cobrar esta falta para com a minha pessoa logo à noite, quando chegar a casa, quando o puser a lavar a roupa, a passar a ferro, a lavar a cozinha, a arrumar o quarto, a massajar-me os pés, a levar-me tabaco à boca...

E é pouco!

Adoro-te, maninho.......






Notinha pequenina: Ema, quando ele chegar a casa, podes mostrar-lhe isto. Eu sei que ele se recusa a visitas desde a história do bonus track. Mas hoje ele merece saber dos meus recalcamentos em relação à sua pessoa...

O diálogo que mudou a minha vida


O Sr.Dr.: A partir de hoje a sua vida vai mudar!

H4rddrunk3r: Eu sei, Sr.Dr., é para isso que cá estou!

O Sr.Dr.: Vá... no dia dos seus anos não vai fazer dieta.

H4rddrunk3r: Que bom, Sr.Dr.!

O Sr.Dr.: Costuma ir muito para os copos, menina?

H4rddrunk3r: Pois, tem dias...

O Sr.Dr.: Então vai começar a beber só de 15 em 15 dias, está bem? E com moderação!

H4drdrunk3r: #$%&*##!!!!!!


11/02/2008

Troco um poema por um beijo.

O José Luís Peixoto disse esta semana na Única "Troco um poema por um beijo". Não sei porquê, a frase mexeu comigo. Talvez por gostar do JLP e achar que tudo o que ele diz/escreve/faz é genial.
Achei de uma subtileza inédita trocar um poema por um beijo. Ele, que é um homem de letras, não hesita perante tal troca. Escolhe o beijo em vez do poema. Sensato da parte dele, se pensarmos em quanta poesia pode caber dentro de um beijo. Confesso que sou pouco dada a esses romantismos. Não entro em êxtase quando me apaixono, não sinto o mundo perfeito à minha volta, a vida não ganha outra cor. Sou fria. Como um bloco de gelo. Faço finta de "durona", nas palavras de alguém. Deve ser por isso que choro nos transportes públicos. Por rejeitar a poesia das coisas, por sentir a voz embargada perante os desconhecidos que se cruzam comigo nos transportes e permanecer impávida e serena perante um apaixonado.
Eu talvez trocasse um beijo por um poema. Um amor falhado pode levar uma mulher a fazer essas escolhas. E não chegaria uma dúzia de JLP's para me fazer mudar de ideias. Um poema é meu. Posso rasgá-lo do livro e dormir com ele debaixo da almofada.

Mesmo que milhares de pessoas o leiam.


Mesmo que deixe de ser publicado.


Mesmo depois de o poeta morrer.


O poema fica ali comigo, as palavras a embalarem-me no sono, na simetria das rimas que não entendo. Mas o beijo... Pode ser meu, como pode ser de outrém. E se o amor for falhado, o beijo esfumaça-se, voa para longe, não posso rasgar os teus lábios e guardá-los debaixo da almofada para te beijar de noite. E como tu não és a Fada dos Dentes, não me virás beijar a meio da noite quando eu me perder de amores. E aí fico sem o beijo.
Mas o poema será sempre meu.




#Imagem: Beijo IV, de Munch

Masoquismo requintado...

Hoje é Dia de Sapatos Novos. Não são nenhuns Manolo Blahnik (porque eu não tenho o poder de compra da Sarah Jessica Parker), nem os lindíssimos Jimmy Choo's da foto ao lado. São da Bershka e custaram 8€ nos saldos.
E são lindos.
E são também um objecto de tortura medieval que, sem dó nem piedade, fazem com os meus pés se contorçam de dor e sofrimento dentro daquela coisinha verde que são os meus sapatos novos. Como é possível que um objecto tão delicado, e que me faz sentir tão sexy, tão femme fatale, me faça ao mesmo tempo amaldiçoar a maldita hora em que fui aos saldos?
É que nem o assobio dos senhores das obras no rés-do-chão, quando ouvem o aproximar do salto alto, me fazem esquecer o vermelho gritante que vejo cada vez que vou ao WC e me descalço.
Só consigo pensar em duas palavras:
Dor
do Lat. dolore
s. f., sofrimento físico ou moral;
mágoa, aflição;
pesar;
dó;
condolência, piedade;
remorso;
(no pl. ) manifestações dolorosas que precedem o parto.
- de cotovelo: ciúme; inveja; despeito.
Sofrimento
s. m.,
acto ou efeito de sofrer, padecimento;
fig.,
pena moral;
amargura;
tolerância.
Estes dois substantivos vão ficar comigo até ao final do dia. E longo que ele vai ser!
E já que estamos numa de lições de grámática, aqui fica mais um substantivozinho/adjectivozinho interessante:
Masoquista
adj. e s. 2 gén.,
que ou indivíduo que é dado ao masoquismo;
por ext. que se deleita com o próprio sofrimento.
E agora vocês dizem "Ok, já percebemos que te doem os pés!". Ao que eu respondo que, não me dando por contente com as dores nos membros inferiores, amanhã vou começar uma dieta bastante rigorosa. Sim, é super sexy ir ao nutricionista. A pessoa X bem me avisou e tentou dissuadir "h4rdDrUnK3R, tu pensa bem que esta dieta é bem f#did*!! Estou sempre cheia de fome!!". Mas não, eu sou teimosa e vou levar a dieta avante.
Não por capricho, não por que me queira sentir bonita ou atraente, mas por questões unica e exclusivamente relacionadas com a saúde. (É aqui que vocês me batem palmas). E fiquem descansados, que não vou fazer nenhum blog a dar conta do meu dia-a-dia de dieta (fome, estenda-se). Já estava a imaginar, as grávidas têm blogs com aqueles contadores dos dias que faltam até ao final do tempo. Eu podia ter um contador com uma senhora assim a puxar para o gordo, que ia diminuindo à medida que eu ia perdendo umas gramas. Muito deprimente, sem dúvida.
Vou-me deixar destas congeminações estúpidas e vou mas é emagrecer ali para um canto.

08/02/2008

Walter Benjamin





Porra, não dá para ler a notícia. Mas pesquisem, ouçam, façam o download que o Walter não se importa. Mas vale mesmo a pena, ele é de facto prodigioso.

Oh pra mim toda hippie! Eu sabia!

You are a Hippie
You are a total hippie. While you may not wear birks or smell of incense, you have the soul of a hippie.You don't trust authority, and you do as you please. You're willing to take a stand, even when what you believe isn't popular.
You like to experiment with ideas, lifestyles, and different subcultures.You always gravitate toward what's radical and subversive. Normal, mainstream culture doesn't really resonate with you.
Are'>http://www.blogthings.com/areyouahippiequiz/">Are You a Hippie?

07/02/2008

Alguém falava algures sobre os olhos.


Eu gosto é de mãos. Há mãos que se dão extraordinariamente bem. Não precisam de cruzar olhares para se entenderem, para saberem o que a outra mão sente.


Mãos que se tocam ao de leve, que se sentem mutuamente e que se querem violentamente.

Há mãos perigosas também. Que provocam desejos inversamente proporcionais à quantidade de pele que está em contacto com a mão do outro. Pouco tacto, desejo incomensurável.


A mão é o fim do membro a que chamamos braço. Eu acho que a mão tem mais de início do que de fim. A mão começa, trabalha, adormece, molda, embala, cuida, pega, acaricia.


Não tenho por hábito citar e não gosto de o fazer, mas o Manuel Alegre disse-o bem no soneto...


Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre, O Canto e as Armas, 1967



Pouco terá a ver com a minha visão das mãos.
Mas tem a ver e muito com outra coisa que amo e defendo, a LIBERDADE. Essa liberdade que a Ditadura levou e que estimulou os poetas, músicos e cantautores deste país a insurgirem-se contra a privação dos seus direitos. Tempos áureos, esses. Hoje, sei que é cliché, mas parece que nada se faz, que nada acontece. E a culpa é também minha, é tua, é de todos os que se acomodam e não querem mais, não lutam, não criam.

Sinto-me tão de esquerda hoje. Hum.




# Foto de Emanuel Couto
Moldar a Água

06/02/2008

A sodomia dos QI's


Há coisas no sexo oposto (doravante, apenas designado como "gajos") que me fazem uma confusão do caraças. Desculpem lá a brejeirice dos termos utilizados, mas passo 4 dias no Oeste e dá nisto. Mas isso agora pouco importa.
Ia eu a dizer que me faz alguma confusão essa mania que a generalidade dos gajos têm em se sentirem diminuídos, quando a sua ditacuja tem um QI superior ao deles. Não pensem que fiz de mim própria estudo de caso. Longe de mim, até porque o meu QI em pouco contribuiria para a concepção deste post. Deduzi-o da observação de certas cópulas que me rodeiam.
Então não é que me apercebi que os gajos ainda fazem pouco das respectivas quando elas identificam nomes tais como Kandinsky, Joel Cohen, Hemingway, Mondrian, Niemeyer, Souza-Cardoso. Parece que se sentem ameaçados perante esse desconhecimento contra o qual não lutam. E então, defesa mais primária, atacam o saber da ditacuja com quanto escárnio tenham à mão. Como se fosse alguma heresia saber tais coisas.
Fico ainda mais chateada quando elas não se defendem, quando se encolhem, não gritam, não esbracejam, não nada! Deixam-se ficar, "porque o amo", "coitadinho, ele não faz por mal, estava só a brincar". Porra, mas o que é isto?!
Se o tema de conversa fossem os novos kartings do Schumacher, o alinhamento do 11 nacional para o Portugal-Itália ou o aumento do plantel do Benfica, a conversa era outra. "Psssht, cala-te, não sejas estúpida que não percebes nada disso, fica lá para aí com os teus livros".
Havia de ser comigo.
Abençoado o homem que tem um palmo de testa para não se sentir diminuído, nem inferiorizado, nem ameaçado. Que reconhece o que tem ao lado.
Ámen.

#Foto de m(n)m, Casanova in Hell

01/02/2008

Não consigo encontrar um título à altura deste post...

Desculpem a incoerência de voltar depois de me ter despedido, mas não resisto a ir de Carne Vale sem deixar aqui esta pérola, este mimo, este tesouro que dedico ao mundo do camionismo e do vil tasquedo português!
Liliana Abreu decidiu vender-se por uns reles 10.000€ à FHM, onde surge em poses pouco católicas e que, a meu ver, pouco abonam a seu favor. A menina, que andava por aí rodeada de flores e de petizes pré-puberes aos gritos que a seguiam por esse país fora, aparece agora nestes trajes:

Pois é, eu também estou incrédula, mas temos que reconhecer que isto mais tarde ou mais cedo iria acontecer. E é só de mim, ou tentaram fazer dela um clone da Benedita Pereira? É que é impossível não notar a semelhança!

Não resisto também a deixar-vos esta foto, a qual dispensa qualquer tipo de comentários, fala por si:

É impressão minha, ou o silicone da mamoca direita está um pouco esquisito, a descair para a direita? E aquela descoloração localizada nos cabelitos da frente? Eu não via nada do género desde que no meu 5º ano, era moda os rapazes raparem o cabelo e deixarem uma popa descolorada. E quando saiam da escola, iam ajudar os pais na lavoura. What else?

Bom, mas ainda a procissão vai no adro. Isto porque vim aqui a descobrir uma certa padronização dos comportamentos (sim, como acontece naquelas investigações do CSI, quando o assassino segue um determinado padrão nos seus actos, dizem eles). Então não é que a querida da Luciana Abreu é discípula da - também ela uma querida - Ana Malhoa? Senão repare-se: ambas tiveram destaque tanto no mundo da animação para os mais pequenos, como no mundo da música. E ambas vieram a descobrir em si um fémea assanhada, uma mulher madura (de princípios duvidosos, convem reforçar), um lado sensual e felino até então ostracizado, esquecido enquanto faziam carreira junto do Portugal dos pequeninos.

Ora, curiosa como sou, não pude deixar de pesquisar mais qualquer coisinha sobre a estimada Ana Malhoa, que fielmente segui aquando dos meus 7, 8 anos. "Sabes que começou no A. A! A! A!...", cantava ela segura de si. Hoje em dia, Ana Malhoa já não é essa criatura didáctica de há uns anos atrás. Mas o altruísmo ficou, sem dúvida. Basta espreitar o deliciosa http://www.anamalhoa.com/, o sitío oficial desta "Body Model", "Fitness Model", "Cover Girl", "Exotic" e , para fechar com chave de ouro, "One of the Hottest International Singer". Sim, o site dá-nos as boas vindas com um humilde "WARNING: EXTREMELY POTENT", seguido de "Ana's World Presents the Portuguese Sexiest Singer". Assume-se como uma "Blonde Latine" e ainda recomenda a quem a visita "Be controversial!". Correções ortográficas à parte, este site é qualquer coisa de surreal. Não sei se a Ana anda a tentar que a industria porno mundial repare nela e venha filmar qualquer coisa de muito wild aqui à terrinha. Ja estou a imaginar, a Ana na Serra de Sintra, a ser perseguida em trajes menores medievais pelo Castelo, por meia dúzia de mouros, que corriam tresloucados atrás dela. Misturava-se o lado didáctico de Ana, a narrar-nos um pouco de História de Portugal (sim, o Hermano Saraiva já era), com o seu lado mais selvagem, a deixar loucos os espectadores de tal película.

Seguindo para a secção de fotos, fica o aviso a quem se atrever (e passo a citar):
AVISO:



Reparem que não são as pessoas que são susceptíveis, e sim os comentários! Enfim...
O ideal mesmo é darem lá um pulinho, a sério...
O que me espanta é como é que a Protecção de Menores e a Segurança Social ainda não andam em cima desta família, como é que ele ainda exercem o poder paternal. É que para além do site ser todo ele produzido pelo esposo, Jorge Moreira, podemos ainda encontrar fotos de Malhoa com biquinis em cores berrantes com nomes que não consigo pronunciar, a fazer lembrar o Baywatch em 1991, em espaços tipo jardim infantil. Cheira-me que nesse dia levaram os filhos ao parque e vira-se o Jorge "Eh lá, oh amorzão, se calhar iste era ganda spot pa gente fazer ai alte cena, tas a ver, tipo tu no escorrega, ãh, amor?".

A única vantagem que encontro no meio disto tudo é que os camionistas, as tascas e as ofininas deste país já não terão que recorrer à pornografia que vem do estrangeiro, e assim sempre se estimula a venda do produto nacional.

Espero que com isto, Abreu e Malhoa não lancem a moda. Está para além da minha imaginação uma Chiquitita com um vestidinho tigresse em poses pouco próprias, espalhada pelas bancas deste imenso Portugal. Se chegar esse dia, perderemos o direito ao pouco que ainda nos confere o título de país civilizado.

Um bem haja!



Carne Levare ou o adeus à carne

Ilustração de Anthony and Cleópatra, William Shakespeare, New York: Duprat & Co., 1891.Paul Avril

Adoro o carnaval. Haverá coisa melhor do que podermos vestir a pele daquilo que não somos e, irreconhecíveis, podermos fazer todas as tropelias e malvadezas que durante o ano nos estão interditas?

Os egípcios já o faziam, embora noutros moldes, de adoração e agradecimento aos deuses. Mas os romanos, esses malandros, é que sabiam... Foram "roubar" a adoração dos gregos ao Dionísios, deus do vinho e dos prazeres da carne, adaptando a ideia à adoração ao congénere romano, Baco. Bacanais com muito vinho, muita uva. Chamem-lhes parvos!

Também gosto da concepção medieval, do adeus à carne. Junta-se assim o ritual de origens pagãs ao "adeus à carne" católico, de antecipação da Quaresma, onde impera a restrição à carne DE TODOS OS TIPOS! Sim, não é só pôr de lado o fiambre e os enchidos, tirem lá a mãozinha da coxa da vossa ditacuja, que o Senhor está de olho!

Nada como juntar à festa a herança vitoriana do séc. XIX (não pensem que eu sei esta treta toda, não sou assim tão croma, está tudo na Wikipedia!), com os disfarces e as festividades ao rubro.
Enfim, isto tudo para vos dizer que este modesto espaço vai encerrar durante 3 dias para se dedicar ao Carne Vale, às festividades carnavalescas, aos prazeres do vinho. Muito vinho, daquele carrascão mesmo, do garrafão.

Divirtam-se muito e aproveitem bem estes 3 dias únicos no ano, façam tudo o que não fazem nos restantes 362. E apareçam em Torres Vedras, o melhor carnaval do país!

CARNE VALE!