28/12/2009

Boring



Estas segundas-feiras após períodos de férias fingidos têm sempre o condão de trazer consigo uma profunda crise existencial. As pessoas estão mais detestáveis que nos outros dias, a voz dos chefes soa mais estridente do que o habitual, a paciência esgota-se demasiado depressa. E depois, o final do ano que se aproxima. A vontade de mudar de vida fica ainda maior. Vontade de conhecer pessoas diferentes, traçar novos objectivos , abraçar projectos inéditos.

Mas amanhã é 3ª feira, dia de voltar às mesmas caras, aos mesmos horários, às mesmas frustrações. E depois será quarta, e depois quinta, e depois um ano a acabar, nova década a começar. Hei-de ter o mesmo computador, na mesma ilha, ladeada pelos mesmos rostos de todo um ano que passou.

Oh um trabalhinho tão bom!!

Say what?? "Trabalhinho"?? Só essa palavra dá-me arrepios.

Shit, preciso mesmo de algo novo. Só não sei o quê.


23/12/2009

Auto-adulação


Porque é Natal. Ou não. Mesmo que não fosse, whatever, um mimo é sempre bom.

E por isso hoje apetece-me dedicar-me esta Interrogação, do Camilo Pessanha.

Apetece-me fazer minhas estas palavras.
Que alguém adoece de sentir-me doente.
Que o meu sorriso é quase um sol de inverno.
Vou fingir. E gosto da sensação.




Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,

Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;

E apesar disso, crê! nunca pensei num lar

Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.



Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.

E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.

Nem depois de acordar te procurei no leito

Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.



Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo

A tua cor sadia, o teu sorriso terno...

Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso

Que me penetra bem, como este sol de Inverno.



Passo contigo a tarde e sempre sem receio

Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.

Eu não demoro o olhar na curva do teu seio

Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.



Eu não sei se é amor. Será talvez começo...

Eu não sei que mudança a minha alma pressente...

Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,

Que adoecia talvez de te saber doente

22/12/2009

Da acefalia no seu pior


Nós, gajas, temos uma certa, terrível e inevitável tendência à acefalia no que toca às questões do coração. É um pouco como as mudanças de humor provocadas pela TPM, temos que sofrê-las e pronto.


Somos um ser demasiado afectuoso, e em proporção directa demasiado carente. Maldito sexo fraco!, pensarão algumas. Se somos mais fracas por sermos afectuosas, carentes? Não me parece. Antes pelo contrário, apenas nos torna mais fortes.


Afinal, só mesmo a uma mulher (acéfala, sublinhe-se), pode suceder ser emocionalmente "enrabada" - e desculpem-me os mais sensíveis, que hoje não estou para eufemismos - e ainda assim sentir uma necessidade inexplicável de amar ainda mais, de se querer dar, de querer acolher e acarinhar.


Porra, é nestas alturas que gostava de ser gajo. Os gajos são tão mais terra a terra, tão mais práticos! Quer dizer, nem todos. Sim, que ainda noutro dia ouvi um gajo assumir que uma das coisas que o assustavam quando tinha namorada, era que ela um dia já não estivesse lá, que o abandonasse. E não, o gajo não era feio, muito pelo contrário. Por isso, das duas uma, ou o gajo é um mentiroso de primeira, o então é o homem que todas queremos ter por perto. Gajo ( e giro!) que tem medo de nos perder, imaginem só!


E com isto, tenho dito. Vou trabalhar.


20/12/2009



As segundas vezes são menos dolorosas. Já não se passa o duro calvário das lágrimas gratuitas. Sabe-se aceitar melhor a dor. Liberta-se da saudade de outra maneira.

Afinal, tudo já aconteceu antes.

17/12/2009



Ainda sobre o casamento gay, apreciem bem estas pérolas colhidas no site do Público :


Atrocidade nº 1: Tenho vergonha ao que chegou a sociedade nos dias de hoje. Casamento para mim deixa de ter qualquer valor a partir de agora. O que vem a seguir? Legitimizar casamentos entre espécies diferentes? Ou entre 3 pessoas? Andando por este caminho é onde vamos chegar. É uma falta de respeito total por quem é casado ou pretenda casar-se.


Atrocidade nº 2: Se pudesse fugia de Portugal. Mas, não posso por razões de dinheiro.


Atrocidade nº 3: A partir de agora e para não fugir à regra do estado da nação passa tudo a andar de marcha atrás.


Atrocidade nº 4: boa notícia! tanto tempo perdido à volta desta "muito importante" questão! agora já se podem casar! vai ser curioso fazer o levantamento daqui a 1 ano, de quantos casais de é que se "casaram". gostava (mas não posso), de estar hoje no chiado e no bairro alto a ver a "festa". com esta decisão, acaba-se com esta discussão, com este tema e avancemos para o que realmente importa. curioso, quem pode casar, fá-lo cada vez menos!! qual será a próxima reivindicação (vestida como direito fundamental)? aceitam-se sugestões, afinal de contas, o proibido é o mais apetecido e quando não o é, deixa de ter piada! não há paciência para estas minorias, que vivem no seu mundo, para as suas gentes, que se auto excluem, que têm os seus espaços próprios, que vivem numa redoma! Ahhh, mas a culpa é da sociedade, qie os excluem, que não os respeitam! Não há paciência! vão bugiar e aproveitem para se casraem e ficarem caladinhos!


Atrocidade nº 5: Definitivamente este país vai muito mal. Ao que chegamos: a uma aberração anti-natura. Nunca vi 2 homens ou 2 mulheres a terem filhos .... por mais que tentem não dará nunca. Cada vez tenho mais vergonha e nojo de ser português.


Atrocidade nº 6: É um dia triste e vergonhoso que vai marcar a historia deste pais...



Caros leitores, estejam à vontade. Neste blog é permitido vomitar.

Até que enfim!!





Informação nº 1: Semana de aniversário em Paris.

Informação nº 2: Semana seguinte em Berlim.

Informação/Questão nº3: Podia estar mais feliz se não fosse fazer esta viagem? Talvez, mas não era a mesma coisa.

16/12/2009


Não lhe pareceu um desafio assim tão grande fazer o tal exercício de memória. Há muito que a relação vinha seguindo uma direcção demasiado unilateral, o que facilitava essa análise que o psicanalista agora lhe pedia. As (poucas) acções que podia identificar entre os dois partiam quase sempre de si mesmo, a imobilidade do outro lado era aterradora.


Queria fazer mais, entregar-se mais, amar mais. Mas sentia-se amputado pelo silêncio dela, excluído pela redoma em que ela se escondia, castrado na solidão em que vivia aquela "coisa" a dois.


Começou pois por ir respondendo ao psicanalista:


Beijo apaixonado? Huuumm... Não me lembro do último. (espontâneos também não, pensou. )

Abraços, não. (Say what? Isso o que é?, riu-se para si mesmo)

Palavras com significado? [tic tac, tic tac, tic tac] A resposta foi inevitavelmente semelhante às anteriores.


O psicanalista não precisou de fazer comentário algum. Já o acompanhava há algum tempo, já se compreendiam mutuamente sem serem necessárias muitas palavras, quase um acessório, em situações várias.

No caminho para casa interrogou-se como poucas vezes era levado a fazer. Não conseguia perceber o que o mantinha ali, agarrado a um sentimento que tinha quase por certo ser só seu. Afinal, merecia muito mais do que aquilo. Nada tinha a ver consigo ter que pedinchar afectos, manifestações de carinho, demonstrações de paixão. Afinal de contas, a paixão devia estar lá, como ele a sentia dentro de si.


Mas não. No lugar da paixão dela, apenas um olhar muito vazio, dois braços que não sabiam abraçar, nada que lhe falasse ao coração.







Na manhã seguinte, o seu nome fez as delícias dos jornalistas ao encher as manchetes do país inteiro. Atirara-se de um prédio aleatório na cidade, pondo um final trágico ao seu desamor.



Parece que a mulher lhe seguiu os passos nessa mesma tarde.

13/12/2009


Odeio este meu rabo de cinquenta anos. Longe da glória de outros tempos, onde nada me diminuía quando comparada com essas putas com que hoje te regalas. Já não reconheço a minha voz, consumida pelos cigarros intermináveis fumados após cada desilusão, a cada noite só, a cada grito. Rouca, foi-se o brio de outrora, o esplendor com que me entreguei a ti e que fui lentamente perdendo.

Os sinais da discussão recente são evidentes. O copo partido, o cinzeiro caído, as cinzas espalhadas, as beatas desordenadas. Como eu, como tu, como a nossa vida. Os negócios, sempre os negócios. O tempo, sempre amanhã, sempre na próxima semana, no próximo mês, no próximo ano. As viagens adiadas, os jantares frios, o meu corpo inerte esquecido na cama.

Esta madrugada, um último suspiro quase inaudível, enquanto te esperei só mais uma vez. Uma maleita aleatória das quais padeço fez-me sucumbir a uma morte silenciosa, anunciada, mas jamais esperada. Morri só, na alvura assustadora dos lençóis, sempre vazios. Não sei por quantas horas mais ficará o meu corpo aqui jogado. Talvez chegues esta noite, embriagado e envolto nesse perfume barato que trazes do corpo de outras. Chegarás quem sabe tão ébrio que nem sentirás o cheiro da minha morte. Provavelmente cairás na cama, a meu lado, para apenas na manhã seguinte te dares conta da minha existência, a qual há muito esqueceste.

Sentir-me-ás agora? Lamentarás todo o tempo adiado, o amanhã, o depois, o próximo ano?

Acorda, foda-se! Aproxima-se a hora do meu funeral.