14/07/2008


Um prédio atrás do outro branco amarelo rosa branco amarelo rosa azul e verde aqui e ali. Atropelam-se na tentativa vã de me encher a vista, até perder de alcance. O vento já não sabe ao mesmo, insosso, insípido, interior. Fecho os olhos. E esqueço-me de quem ao meu lado segura o volante. Por momentos, és tu quem viaja comigo. Fecho os olhos e poderia jurar que ralho contigo, mete a quarta, olha que assim o carro consome muito. E tu embrenhada nos teus pensamentos, nas tuas desilusões, nas tuas ambições perdidas. E eu a pensar que não quero ser como tu. Não quero ter sonhos por realizar, quero destacar-me, quero que te vejas projectada em mim, que vejas em mim a extensão daquilo que nunca chegaste a ser. Sim, puno-te pelas escolhas erradas que fizeste. Pelas vezes em que ficaste em quarta, em que hesitaste e nos castigaste pelas tuas escolhas. Eu não quero ficar em quarta, mãe. Não quero.

Fecho os olhos mais um bocadinho e imagino-te mais uns minutos. Os prédios e o vento são sempre os mesmos. Só a mão áspera que toco me traz de volta à realidade e sei que não és tu. Acabou-se o tempo das ilusões.

1 comentário:

lampâda mervelha disse...

Nada é simples. Apenas morrer-se.