18/01/2010

Strange Fruit

Tive sempre alguma dificuldade em compreender a verdadeira essência do Miguel. Dele, lembro as tardes inteiras de Domingo em que o único som entre nós se resumia à voz dela. Billie Holiday, a única cantora que amou como eu nunca vi alguém amar um músico. Um certo cheiro no ar denunciava-lhe o cultivo do lado de fora da casa. Além de ouvir Billie Holiday dia e noite, a sua outra exclusiva ocupação eram as plantas espalhadas pela marquise. Ordeiras, ao contrário da sua vida.

Distinto nos gestos, subtil nos gostos, único na inércia, o seu maior defeito. Esse e o de não beijar mulher alguma. Mal pude crer quando me contou. Mas entre um bafo e outro, confessou-me ser a única coisa que nele atraía as mulheres. Pois, isso e esse malvado palmo de cara que te calhou em sorte, pensei. Damn!

Do mesmo modo que entrou na minha vida, assim saiu. De fininho, pontas do pés, sem alaridos. Só no mundo, perdi-lhe o rasto. Imagino-o embarcado algures no Pacífico, fiel às teorias que ele próprio nunca cumpriu.


2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei!

Anónimo disse...

"único na inércia"! :-)