21/01/2010

HOPE


Lisboa. Lisboa está repleta de caminhos, ruelas, avenidas que fiz. Fi-las a todas com um propósito especial. Hoje olho-as perguntando-me quando as voltarei a percorrer. SE as voltarei a percorrer. Com o mesmo propósito, a mesma rota, o mesmo destino. E os objectos. Os objectos decompõem-se ante esta arte de os olhar. Desnudam-se, reveladores de segredos, de segundos de vida que lhes deixei. Revejo-os e revejo-me. E não passam de objectos. Peças que ficarão quando nada mais restar para lembrar. Vazios de qualquer significado quando morrermos, e mais ninguém neles lembrar coisa alguma.

Não quero mais desse teu fumo. Não quero névoas, quero um noite clara que me leve a casa em paz e me aconchegue e me ofereça um sono do qual não sei se quero acordar. Afinal, lá fora oferecem-se as ruas que lembro e que não sei quando voltarei a percorrer. SE as voltarei a percorrer. A linha entre a realidade e o mistério é tão ténue, tão frágil a um simples um olhar! Um olhar assim despe, cruza um mundo inteiro só de se sentir recordado.

Fecho-me num abraço e deixo por fim de resistir. Fecho os olhos numa doçura infinita que desceu sobre mim, e que me convida a esquecer. A sentir de peito aberto cada bater de coração que me empurra de volta à vida. E como sabe bem sentir-me viver. Como é bom liquidificar a alma e deixá-la fluir solta, feliz, destemida!

Não quero abraçar, não quero fechar os olhos! Não, ainda não! Quero agarrar este mundo inteiro só mais uma vez, e fazê-lo meu, fazê-lo teu, fazê-lo obscenamente nosso. Porque não há vergonha alguma em ser-se mais, em querer-se mais, em dar-se mais!

(...) Suspiro (...)

Afinal estou cansada e não passo de uma pequena criança embrulhada nas mãos do mundo. Encolho-me tímida e não resisto vais, desvaneço e fecho os olhos. Voo para longe. E sou feliz.


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