27/08/2008

E afinal, há feridas que não estavam tão fechadas como se pensava. Nem perto de saradas. Enchendo o dia-a-dia de farsas, de pequenas encenações, dramas, tragédias. Enchendo os dias de pensos rápidos, daqueles que ajudam a estancar o sangue. Mas há sempre feridas que não fecham, que clamam por mais atenção, por mais pensos rápidos.

Felizmente, ainda há quem nos obrigue a por o dedo na ferida, quer queiramos quer não. E damos por nós numa tarde de domingo, um alpendre decorado de lágrimas. Ali sentada no alpendre, desejei ter deixado os pensos de lado ao longo do caminho. Mas não, era mais fácil assim. A cor ocre do penso, promessa de cura imediata tremendamente irresistível. Por o dedo na ferida não é fácil. Faz doer. Mas segundos depois sente-se o coração bombear um pingo de cura corpo fora. E depois outro sorrateiro. E mais outro. E outro. E é nesse pedaço de segundo que ainda se consegue ousar acreditar que a vida poderá um dia ser tudo aquilo que desejamos.

5 comentários:

Lobo disse...

Been there... Done that... Infelizmente...
Talvez passe.

Beijinho.

Rosa dos Ventos disse...

O teu texto comoveu-me...
Quando a ferida é uma enorme chaga no peito não há penso que alivie a dor, mas felizmente que há momentos de algum alívio.

Abraço

Cláudia Sampaio disse...

Parece que o tempo passa e continuamos com vidas paralelas. Também descobri há uns dias que a minha ferida não está sarada. Pelo contrário. Foi crescendo ainda mais, tornou-se um cancro. só espero que haja cura.

Francisco disse...

Bonito, mas olha que as feridas são para estar fechadas. São uma porta aberta às infecções.

Freak n'Chic disse...

Fogo... que bonito. Porque o que é tão doloroso pode ser tão belo - assim como um estádio mais elevado.