10/05/2010

Meu (querido) mês de Agosto


Agosto foi sempre um mês de contradições. Os primeiros dias traziam sempre o cheiro inolvidável dos eucaliptos arrancados da terra e que iriam dar a cor à festa em honra da Nossa Senhora. Horas infinitas de correria rua acima rua abaixo, jogar às escondidas, a inevitável procissão, a eterna tristeza por nunca ser escolhida para interpretar um anjinho ou um dos pastorinhos. A Lúcia era a que eu queria mais ser. Nunca consegui nem uma coisa nem outra. Nem ser anjo, nem projecto de santa. Talvez aí resida a origem deste meu mau estar crescente relativamente a tudo o que diz respeito à Igreja, vá-se lá saber.


Meados de Agosto, o calor apertava e outro odor irreproduzível se fazia anunciar. A terra remexida pelas máquinas, a vegetação devastada ordeiramente, as mãos metidas ao chão. Era o tempo de se colherem as batatas, sementes jogadas à terra meses antes. Temperaturas infernais, uma vista torturante para o topo da aldeia, onde imaginava os meus amigos a jogarem às escondidas e à apanhada no que sobrava do arraial da festa. E eu ali, de rabo para o ar, amaldiçoando a cada gota de suor esse maldito fado que era ter que ir para o campo todos os anos.


Nunca cheguei a perceber se era mais forte o meu amor pelo arraial ou o meu desprezo pela lavoura à qual nunca consegui fugir.

3 comentários:

lampâda mervelha disse...

Agosto para mim, definitivamente ficou-me marcado por sentir o mar. A única altura do ano em que nos abraçávamos horas e horas a fio, até ficar roxo.

Uma viagem extenuante, mas assim que vislumbrava aquele traço azul a dominar o horizonte...

Amaldiçoava morar tão longe. Hoje vejo isso como uma dádiva.

:)

pegueitrinquei disse...

Eu então sempre vivi perto e não me imagino de outra maneira... Sabe tão bem! :)

lampâda mervelha disse...

Entendo que não te imagines de outra maneira. Assim como não o ter sempre que me apetece, faz-me ter tantas ganas de mergulhar e perder-me.