25/10/2010
Listen First
21/10/2010
Mas sabes bem que podia armar-me no romântico que não sou e dizer-te que és linda e inteligente e divertida e … todas as outras coisas que realmente és. Mas quantos gajos antes de mim já to disseram? E de vos serviu?
12/10/2010
Conversa
Como é que descreveria a sensação de estar a sós comigo mesma, foi isso que perguntou? Sim, era essa a pergunta. Desculpe, é a idade que já não me deixa ouvir como dantes. Olhe, para mim é algo muito parecido a caminhar nua e descalça numa floresta. A cada passo percorrido, o meu corpo recolhe-se numa tentativa vã de se proteger das dores infligidas aos pés pelos ramos partidos, pelas folhas secas, pelos pequenos animais rastejantes. Mas não me interprete mal, este é o MEU interior. É espinhoso, árido, seco, repleto de trilhos dolorosos que nunca deviam ter sido percorridos. Mas quero acreditar que outros existirão, menos encardidos, mais luminosos. Apercebi-me desta floresta espinhosa já demasiado tarde. Toda a minha vida, depositei o meu equilíbrio nos outros, nos outros me apoiei, e neles encontrei as forças que perdera em mim desde cedo. Não podia ter feito pior escolha. O meu ponto de equilíbrio, devia tê-lo trabalhado desde dentro. Devia tê-lo centrado em mim. Nunca em pessoas e situações sobre as quais nunca tive qualquer controle. A ilusão, enquanto existia, era perfeita. Era como um dia cheio de luz que nunca terminava, daqueles em que temos que erguer o braço e proteger os olhos de tanta claridade! Só me apercebia do quão nocivo esse comportamento era sempre que havia uma ruptura. Separações, perdas, derrotas e contrariedades. Toda e cada uma delas me puseram de frente aos meus maiores fantasmas, a todas as fragilidades que tinha e tenho dentro. Em cada uma dessas alturas, percebia a solidão imensa que era viver comigo mesma. Uma imensa paisagem lunar, sem sombra de luz que nela se projectasse, sem réstia de vida que alimentasse alguma esperança que fosse. Num desses períodos, um colega seu perguntou-me se era feliz e como é que essa felicidade me fazia sentir. Não precisei pensar muito. A felicidade para mim era o oposto da floresta que lhe descrevi antes. Felicidade para mim era uma sensação nítida de caminhar descalça numa praia imensa e deserta, num dia ameno e solarengo, propício ao descanso da alma. De enterrar os pés da areia e senti-la macia, e gostar de a sentir assim. E deitar-me na areia e ficar a ver as nuvens no seu movimento incessante que torna impossível desviar o olhar. Não poucas vezes me senti assim. Mas hoje olho para trás e sei que todos esses momentos foram a ilusão que a mim própria induzia. Porque mais ainda foram as vezes em que dei por mim descalça na floresta, à procura de um abrigo que não existia. Permite-me a distância dos anos ter hoje esta clarividência. Duvido que na altura me tivesse servido de alguma coisa. A alternância praia-floresta-praia-floresta foi um jogo ao qual nunca deixei de comparecer. Um jogo ao qual me entreguei sem reservas e que joguei inconsequentemente. E que apesar dos avisos, continuei a jogar. Colegas meus sem formação palpável diziam em anos idos terem frequentado a escola da vida. Eu? Fiz escola na dor, e dela bebi sem contemplações nem segundas hipóteses. Da carreira preenchida que tive, nada levo senão a mágoa imensa de continuar a sós comigo mesma. Até ao último suspiro que me leve deste calvário para uma praia onde hei-de ficar para sempre sob um sol imenso.