07/07/2009

Viviam presos na meia idade, numa malha de almoços e jantares e concursos televisivos inócuos e as visitas dos netos aos domingos. Ainda iam para a cama de forma regular - dependendo do ponto de vista - mas com a frequência normal para a sua idade. Uma vez por semana. Sem grandes dramas, sem grande entusiasmo, sem a dedicação de outras idades. Mas ainda se amavam, e isso chegava-lhes. Ela já raramente ficava por cima. A ele não lhe fazia diferença, ela tinha aquele problema nas costas e ficando por baixo custava-lhe menos, dizia ela às amigas em desabafo. E ele agradecia. Gostava de comandar, não obstante por ora não houvesse muito que comandar, já não reservavam grandes surpresas um ao outro. Tinham tido uma vida feliz. Primeiro os filhos, depois os netos, os anos a passarem sempre intermediados pela inevitável semana no Algarve, as mesmas rotinas, os mesmos gestos. E sempre a mesma ternura presente. Já não havia ele a chegar quente do trabalho e a tomá-la ali mesmo, na cozinha, ou ela a acordá-lo gulosa a meio da noite de língua generosa. Agora havia o chá de camomila antes de dormir, ela preguiçosa no sofá, ele com um qualque bricolage. E a queca semanal.


2 comentários:

Porcos no Espaço disse...

Consegues ser extremamente nítida quando queres. Parabéns pelo texto, mais uma vez.

lampâda mervelha disse...

Rotinas e não hábitos...

Gostei!