As pessoas do metro são demasiado feias. E a música que sai dos meus auscultadores torna-as ainda mais feias, sujas, mal dispostas, azedas, cinzentas. E não as consigo encarar. Nem elas a mim. Fugimo-nos reciprocamente, inevitavelmente, circularmente. Olhares ping-pong. O meu bate em ti, tu passa-lo para o da frente, o da frente para o do lado. pingpongpingpongpingpong. DINGDONG Marquês de Pombal, há correspondência com a linha amarela (uffffffffffffffffffff) e respiro finalmente. Enquanto subo a Braamcamp, evito pensar porque odeio tanto as pessoas do metro. Mas a verdade é translúcida demais para lhe fugir. Com as evidências não há pingpong. Não são as pessoas do metro que são feias. É o meu cinzento que as torna feias, é o saber-me igual a elas. Eu também sou uma das pessoas do metro. Umas das feias, sujas, mal dispostas, azedas, cinzentas pessoas do metro. Olho-as e odeio-as por me saber ser assim também. São já 8h27. Oito horas e vinte e sete minutos. Pico o ponto e urante todo o dia fingirei um não-encontro com as pessoas do metro. E finalmente às 17h voltarei a odiá-las/odiar-me. Às dezassete horas.
sabia-me bem o colo dela
6 comentários:
Passei muitos anos no Metro. No comboio e no autocarro também. Sim, as pessoas são feias nesses momentos.
Agora ando de carro. E as pessoas continuam feias.
Puseste o dedo na ferida. Já me senti exactamente como tu no vai-vem cinzento dos transportes públicos: incomodada com a presença insípida de desconhecidos. Se calhar é porque no sufoco de respirações e suores alheios a solidão parece maior...
(na blogosfera, pelo contrário, por mais solitário que seja o acto de ler textos no ecrã do computador, sinto-me confortável na companhia de palavras perspicazes de pessoas que muitas vezes nem sequer conheço :))
hii, rapariga, o que vai aí!
Isso é do tempo, vá lá, bora beber um copo que isso passa. :)
Eu ando mais de autocarro. Não é muito diferente para o que interessa aqui.
Ai... Ser feio ainda é como o ooutro... agora os cheiros é que não se consegue...
Há dias em que a viagem para casa é simplemente uma odisseia. Um nunca mais acaba. O calor excessivo, a humidade pegajosa, os solavancos, o transito infernal; acabam com o resto de energia que tenho.
Engraçado. Eu gosto do metro, embora em parte como sucedâneo do comboio, esse sim, o transporte dos transportes. Uma vez presenciei no metro, por episódios, a paixão da estudante e do belo soldado. Um dia conto isso!Em todo o lado as pessoas se encontram...
'em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco'
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