Porque na sociedade portuguesa actual, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições e os homens supostos deterem e dispensarem o poder-saber não foram ainda quebrados por novas forças de expressão e liberdade.Numa palavra, o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo. É o medo que impede a crítica. Vivemos numa sociedade sem espírito crítico – que só nasce quando os interesses da comunidade prevalecem sobre o dos grupos e das pessoas privadas.
Parágrafo de José Gil na mediática obra Portugal Hoje, o Medo de Existir, neste início de século. Já no início do século passado, repito, século passado, escrevia o mestre Fernando Pessoa:
Tão regrada, regular e organizada é a vida social portuguesa que mais parece que somos um exército do que uma nação de gente com existências individuais. Nunca o português tem uma acção sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo. Está sempre à espera dos outros para tudo. E quando por milagre de desnacionalização temporária pratica a traição à Pátria de ter um gesto, um pensamento ou um sentimento independente, a sua audácia nunca é completa porque não tira os olhos dos outros, nem a sua atenção das suas criticas.
É preciso dizer mais alguma coisa?
9 comentários:
Adorei...
Claro que reparei em diferenças nos dois textos, principalmente porque Fernando Pessoa é genial limitando o passo seguinte dos que tentam fugir ao "rebalho" mas não deixam de se contextualizar nele.
Muito bom :)
"Tão regrada, regular e organizada é a vida social portuguesa que mais parece que somos um exército do que uma nação de gente com existências individuais. Nunca o português tem uma acção sua, quebrando com o meio, virando as costas aos vizinhos. Age sempre em grupo, sente sempre em grupo."
Bem, só falta alguém vir dizer que O Nandinho Persona também é um ignorante. Ás vezes baralhas-me as voltas oh Claudia. Afinal em que ficamos?!...
Eu cá concordo.
*
não stresses... eu acredito naquela lei do retorno... e em dose tripla!!!
já sentimos a tua falta
RightBehindYou
infelizmente tenho q dizer q os senhores sabem do q falam
Temos uma grande tendência para a carneirada. Até com isto estamos todos de acordo! :-)
:)
gostei.
scaramouche.
Ao vermos os anos que separam estas duas grandes citações só se prova que a carneirada não mudou, e ainda continua a ser o que era. Apenas mais sofisticada.
E à passividade generalizada há que juntar a sua consequência natural: a inveja. Quando a pequenez de espírito se instala, o terreno é fertil para nutrir um ódio disfarçado àqueles que ousam agir com horizontes mais amplos.
Off-post: vim também lançar-te um dos clássicos desafios bloguísticos. Não é muito típico em mim, mas achei que irias gostar deste. Quando puderes, dá uma espreitadela ao meu blog. :)
Não!
Está mesmo tudo dito, infelizmente somos assim.
Será que mudaremos alguma vez?
Abraço
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