No cinema francês, consegue-se sempre perceber quando é que vai acontecer o beijo entre os protagonistas. Seguem-se as juras de amor eterno e o não sei viver sem ti do costume. Já na vida real, upa upa…
Hoje olho para a década de ’90 e veja nela um cemitério por excelência do romantismo. Veja-se este casal cuja conversa não pude evitar ouvir um destes dias. Sentados na mesa ao lado da minha, ela olhava-o com a intensidade de quem está perdido de amores, enquanto nervosa ora passava os dedos pelo cabelo, ora tamborilava os dedos desatinados na mesa gasta. Falava-lhe das suas angústias, do medo que tinha pela frieza que os caracterizava aos dois, e de como temia que isso condenasse a relação a um fim sem volta. Estava claramente apaixonada por ele, via-se em cada expressão sua. Já ele, de olhos perdidos num vazio que ela não sabia explicar, pouca atenção lhe prestava. Limitou-se a atirar-lhe um árido “pois, bem sei que não sou fácil, mas eu também não obrigo ninguém a estar comigo, que eu cá nessas coisas sou muito independente”. Um silêncio sepulcral caiu sobre a esplanada, e juro ter chegado a ouvir os movimentos da garganta dela, enquanto engolia em seco.
O romance como o conhecemos dos livros do Eça, do cinema francês, e dos filmes baratos de Domingo à tarde da TVI parece estar condenado ao esquecimento. Pelo menos assim será, enquanto as pessoas continuarem a alardear a sua independência em detrimento daquilo que têm dentro. Parece que hoje em dia se granjeia mais facilmente o respeito alheio se formos pessoas independentes emocionalmente, se o ar que respiramos não depender mais da pessoa amada, como nos romances de faca e alguidar. Não digo que não seja bom sermos independentes emocionalmente. Afinal, não devemos depender mais de outrem do que de nós próprios no que toca a sermos felizes. Mas não pude deixar de temer, ante a conversa do dito casal, que o futuro das relações seja esse. Que o romantismo desapareça irremediavelmente.
A não ser, claro, que se continuem a ver os filmes de Domingo à tarde da TVI.