29/04/2010

Velho do Restelo de trazer por casa...


Antigamente, o início de uma relação tinha a piada de ser alimentado por trocas infinitas de cartas que fariam corar Romeu e Julieta. Hoje em dia, basta actualizar o estado no Facebook para que num milésimo de segundo todo o nosso universo de amigos (e não só) fique a par das nossas aventuras e desventuras amorosas. Perde-se o encanto epistolar de outros tempos, enquanto se alarde ao mundo inteiro a nossa privacidade. A intensidade da relação (ou falta dela), essa passa a ser calculada na medida de horas que se passa em chats com o/a mais que tudo.



Marcar uma posição passava não raras vezes pela redacção de um post ou crónica inflamados, assaz capazes de desarmar os mais cépticos. Hoje a coisa é mais simples. Adere-se a um grupo no Facebook que expresse esta ou aquela vontade, e todos ficam a saber in loco as ideias que defendemos e em que acreditamos.



Ainda me lembro de a cada aniversário, correr à clássica Papelaria ABC, um ex-libris lá da terra, a comprar os convites para a minha festa, que entregaria a cada um dos amigos mais especiais. Mas só mesmo aos mais especiais, que os convites ainda eram caros para o parco orçamento de que me fazia acompanhar. Hoje em dia? Fácil! Cria-se um evento, convida-se massivamente toda a rede que compõe as nossas amizades, e será uma sorte se a adesão chegar aos 50%!



Não se pense com isto que desprezo o Facebook. Mea culpa pública, porque... I love that shit!



Mas ainda assim... Sinto falta da emoção que sentia sempre que escrevia uma carta de amor, da ansiedade pela missiva aguardada, ou da alegria infantil em ir comprar os benditos convites para as minhas festas de anos.
Sou saudosista sim senhor, ou nao fosse eu portuguesa dos pés à cabeça.

19/04/2010

Há uma voz que cala todas as outras. Uma voz que me deixa em silêncio e aconchegada no branco e nos azuis. Uma voz que ora baixinho, ora gritante, ecoa dentro de mim, tocando cada espaço do meu corpo, fazendo tinir todos os vazios. Uma voz de todas as cores, que me faz querer correr o mundo sem nunca sair do mesmo sítio.

Essa voz chama-se felicidade e sinto-a cada vez que te sinto. Dizem os poetas que se chama amor. Eu da poesia, nada sei.


amor (ô)
(latim amor, -oris)
s. m.
1. Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atracção!atração; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa (ex.: amor filial, amor materno). = afecto!afetoódio, repulsa
2. Sentimento intenso de atracção!atração entre duas pessoas. = paixão
3. Ligação afectiva!afetiva com outrem, incluindo geralmente também uma ligação de cariz sexual (ex.: ela tem um novo amor; anda de amores com o colega). (Também usado no plural.) = caso, namoro, relacionamento, romance
4. Ser que é amado.
5. Disposição dos afectos!afetos para querer ou fazer o bem a algo ou alguém (ex.: amor à humanidade, amor aos animais).desprezo, indiferença
6. Entusiasmo ou grande interesse por algo (ex.: amor à natureza). = paixãoaversão, desinteresse, fobia, horror, ódio, repulsa
7. Coisa que é objecto!objeto desse entusiasmo ou interesse (ex.: os livros electrónicos!eletrónicos são o meu amor mais recente). = paixão





10/04/2010

Tirania interior




Enquanto ia vivendo as mais diversas situações traumáticas que marcaram o meu crescimento, desde a infância à idade adulta, um medo prevalecia dentro de mim. Tinha muito medo de não conseguir vir a ser uma pessoa "normal" quando fosse grande. Pensava que ia ter medo de estar sozinha, pensava que podia nunca vir a ter uma relação normal, pensava muito na fronteira entre mim e o outro e até onde ela poderia ser perturbada.


Poucas horas atrás, cai-me tudo em cima. No meio do zapping, a bomba explode-me nas mãos, estilhaços por todo o lado. Alguém na televisão relata a patologia clínica que marca os seus relacionamentos e que não a deixa viver com equilíbrio e em tranquilidade. A cada episódio relatado, a cada sentimento confessado, mais me assustava tal era a semelhança entre a minha vida e a daquela mulher. Deitei-me a pensar nisso e esta manhã lá consegui coragem para procurar algo mais sobre o assunto na internet. Mais uma vez, lá estava ela. A verdade nua e crua sobre toda a minha vida, relatada pelas mais variadas pessoas.


Não deixa de ser triste pensar que ao crescermos, os problemas são mais que muitos, e quando os pensamos definitivamente ultrapassados, esquecidos no passado, BUM! Eles estão e estiveram sempre lá dentro, como uma ferida aberta que teima em não cicatrizar, e vai apodrecendo os tecidos à sua volta.


Procurei ajuda antes ainda de saber dar um nome ao meu problema. Ontem finalmente soube do que padeço, soube dar um "rosto" ao monstro contra o qual venho a lutar. Deixa-me minimamente tranquila o reconhecimento que já fiz para mim mesma de que está na hora de mudar. Aos poucos, hei-de viver em paz comigo mesma. Assim espero.

04/04/2010

URBI ET ORBI


Pergunto-me se conhecerás já cada centímetro da minha pele. Julgo que não, muito há ainda a fazer. Não te preocupes, tenho um plano. Este noite encontrar-me-ás posta sobre uma tela virgem, o corpo inteiro contra o branco imáculo da tela ainda por profanar. Ao lado, estará uma paleta de cores, mas não encontrarás pincéis. Das tuas mãos sairá a pintura que te fará conhecer cada recanto de mim. O fim? Só estará próximo quando não restar superfície alguma por cobrir, quando toda a pele sufocar de tinta por todo o lado. Depois? Não te preocupes, deixar-te-ei serpentear o corpo contra o meu, e também tu ficarás coberto de cores, numa anarquia perfeita que nos fará ficar ainda mais juntos.