31/03/2010

Discos Pe(r)didos



E já temos em linha o próximo ouvinte nesta última tarde de Março, boa tarde!




Boas tardes! É, daqui é Belinha que fala, de Trambique.




Boa tarde Belinha, então e qual é a musiquinha que vai dedicar?




Olhe, eu queria ouvir O Filho do Recluso, do Júlio Miguel e da Lêninha, é.




E vai dedicar a quem, Belinha?




É, olhe, era pa d'dicar ao Marcelinho, à Pitó, à Tonicha e ao Tico Marceneiro...




Muito bem, Belinha, vamos enta...




'Pera, 'pera, falta a Deolinda do talho, é, a Auzenda e mais o marido, o Aurélio, a minha sobrinha Marina Sabrine que 'tá lá pa França, a minha cunhada q'eu não esqueço, olhe e pra maltinha toda lá da praça, é. Sim, é que eu tenho lá a banca da fruta e conheço-os a todos, é.




Pois bem Belinha, vai então para o ar O Filho do Rec...




Ai 'pere lá que me lembrei ainda do Maneta, lá do Bairro da Boavista, da Laurinda, q'é a melher dele, e prontos, e pra aldeia de Trambique em geral.




Sim senhores, sim senhores Belinha, vamos então para o ar com O Filho do Recluso, do Júlio Miguel e da Lêninha...






É, a memória a modos que é traiçoeira. Nada que uma viagem de táxi não contrarie. Pois que hoje me deixei conduzir por um velho taxista, diria jurássico mesmo, coisa de 3,5 km, 4 km no máximo. O suficiente para trazer ao de cima esta coisa que tinha recalcada nos ínfimos da minha memória: os discos pedidos. Essa pérola que acompanhou a minha infância algures ali entre os 5 e os 6 anos. Mas adorava ouvi-los, ouvir as músicas que eles pediam, a quem as dedicavam. Nessa altura, ficava bem pedir Celine Dion, Mariah Carey, Shania Twain. Eram as musas dos primórdios de '90, e toda a gente adorava dedicá-las ao marido, aos filhos, às colegas do trabalho, aos cunhados emigrados aqui e acolá. Como se houvesse a remota hipótese dessa cangalhada de gente estar agarrada ao rádio a ouvir a tão aguardada dedicatória. Sintoma da falta de internet, e para mim sinónimo das idas a casa entre o período da manhã e o da tarde, para almoçar com a avó. É, nunca mais me tinha lembrado dessa preciosidade. Até ter hoje sido transportada pela Companhia de Taxis "A Formiguinha", conduzida pelo senhor Saul Mendes. Assim se chamava o taxista.

British weather


Não gosto destes dias cinzentos. De fechar a porta e ter que esconder no chapéu de chuva. Os dias de sol mascaram melhor a realidade, dão uma falsa sensação de segurança em que o mundo é feito de flores e tudo vai ficar bem. Pantanosas convicções, que logo esmorecem ante uma nuvem mais carregada que tape o azul do céu. Com sol sou mais feliz, revejo-me nos tons quentes e sinto-me ter forças para reagir. O cinzento leva-me ao encontro da minha própria escuridão, à qual quero com todas as forças fugir. Como num qualquer jogo de computador, é como se o sol me desse créditos, forças extra para lutar contra tudo e contra todos, e em especial contra a escuridão que tenho dentro. O céu coberto? Apesar de mais escuro, esse deixa bem claro e a descoberto o pior de mim, o que não quero ser. Escondida sob o chapéu de chuva, não consigo mais simular a aparente tranquilidade, sinto-me demasiado exposta, não obstante a falsa protecção proporcionada pelo acessório.

Um destes dias, ainda fujo para Londres e enfrento-me de uma vez por todas. Lá está sempre cinzento. Talvez lá consiga ser feliz.

Um dia.

26/03/2010


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OBRIGADA!

25/03/2010



Novas luzes se fazem sobre velhas realidades. Tudo se torna claro afinal. A busca de uma vida inteira. Sempre na senda de um porto de abrigo, de protecção incansável. O elemento masculino. Tudo faz sentido agora. O abandono constante tornou insaciável esta necessidade grotesta de protecção. Mas o contacto não pode ser demasiado. O meu espaço pessoal não pode ser violado. Quero ser só eu mas possuir o outro. Não quero estar só e no entanto não me quero invadida. Quero apenas quem não me quer. Quem me quer demasiado, rejeito. Imperfeita de origem.

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Reajo e recomeço. Vens?

ἐπιστολή




Ela já o tinha avisado antes. Ele não quis saber. Que parasse de olhar assim para ela, que se deixasse de surpresas, de jogos, de gestos, dessas coisinhas de quem ama e que ela menosprezava. Queria que ele percebesse de uma vez por todas que era uma mulher independente, que não queria nem precisava de homem algum ao seu lado que a fizesse sentir-me mais só por ter alguém ali. Já o tinha avisado que não queria amar ninguém, já não o sabia fazer desde a última vez que isso acontecera. Amara demais e fora amada de menos. A solidão a dois não voltaria pois a repetir-se, ela não deixaria que isso acontecesse. E por isso, não se deixou levar no amor insistente dele. Limitou-se a avisá-lo, vezes e vezes sem conta, na esperança de vencê-lo pelo cansaço. Mas nada parecia demovê-lo. Teimoso de um raio! Pára de criar expectativas, já te disse e repito que nunca, mas NUNCA mais hei-de deixar que a minha felicidade esteja nas mãos de alguém. Por isso, pega em ti e faz-te ao caminho, que daqui não levas nada. Pobre dele. Era vê-lo a arrastar-se pelos cantos, visivelmente derrotado durante semanas a fio, devastado por uma frieza nunca antes vista. Não imaginava que alguém se pudesse magoar ao ponto de se recusar a amar de novo. Durante semanas procurou convencer-se de que a esqueceria, de que o amor em si acabaria por morrer, sufocado no seu próprio exagero de existir. Engano puro. Nunca entregou a memória dela, enquanto viveu. Soube dela vários anos mais tarde. Soube-a entregue aos cuidados de terceiros, internada numa qualquer instituição para os que se perdem da realidade. Soube-a enlouquecida do amor que recusou, do amor que não quis abraçar. Os dias, dedicava-os a redigir cartas infinitas de amor. Cartas que se poderiam ter perdido na demência, mas que alguém achou por bem que se salvassem desse destino. Não se sabe ao certo quantas cartas terá escrito, nem tão pouco quem seria esse nome que repetia a um ponto quase insuportável, o que confirmava a sua demência, já há tanto diagnosticada. Sem se lembrar muito bem de como, ele identificou-se num dos primeiros textos que viu algures escritos. Alguém terá publicado as mais que muitas epístolas por ela redigidas. Por fim, ele soube. Que ela afinal também o amara.

E que desse amor que não quis dar nem receber, terá enlouquecido.

24/03/2010



É como ter uma música a tocar repetidamente dentro de nós. Uma música boa de mais, que nos arranca um sorriso doce, que nos faz ficar de olhos fechados a pensar em tudo e em nada. Uma música que faz querer agarrar o mundo todo de uma só vez, para logo a seguir o dar a outrem...

É como ver a última estrela que se deixa apagar enquanto o dia amanhece. O sono começa a pesar, o corpo entorpecido a deixar de responder e a pedir mais e mais um outro corpo que o aqueça.

E a música sempre em replay, repetindo infinitamente ondas de felicidade que parecem não ter fim...

Afinal, que mais é preciso para ser feliz, do que ter esse música boa cá dentro? :)

22/03/2010


Verbalizar sentimentos ou emoções não constituiu nunca problema algum. Fosse por escrito, dito nos olhos de alguém ou sussurrado baixinho ao ouvido. Talvez o arrebatamento próprio da idade, a inconsequência das paixões desenfreadas, as borboletas na barriga a não pararem quietas.



Mas hoje os sentimentos trazem marcas indeléveis de um passado que carregam, não fluem como antigamente, pedem cautela. Acautelada nas palavras, sinto-me implodir na euforia de que pereço, feita prisioneira nas palavras e nos seus incautos sentidos. Aos sentidos então me relego, enquanto saboreio, oiço, cheiro, sinto... E sinto-me viver, plena de candura, a cada toque a que me entrego, a cada beijo em que me perco, a cada centímetro de pele percorrido.




Tornam-se obsoletos os sentimentos, ante a majestosidade dos sentidos.



(suspiro)

18/03/2010

Putrefacção


Mais um dia de entranhas expostas. De revolver os horrores guardados fundo. Imagens hediondas, fétidas, a lembrar corpos velhos em decomposição. Não lhes posso com o cheiro. Dão-me naúseas, torna-se uma questão de sobrevivência esquecê-las.

A negligência e o abandono claros como água, como numa inédita lucidez de quem os vê pela primeira vez. Como se nunca tivesse vivido no meio deles. Afinal vivi, e não sabia. Ou não quis saber, já não sei.

Meto as mãos à cabeça e fico a pensar onde fui afinal buscar tantos sorrisos, onde fui sendo capaz de ser feliz, aqui e ali, pequenas injecções de felicidade. Indiferença propositada ou o teatro de uma vida inteira? Já não sei, já não distingo o que é certo do que é errado, o falso do verdadeiro.

Viver num circo de horrores tirou-me toda e qualquer certeza do que sou, a consciência do que é ser eu própria, viver dentro de mim, presa dentro de mim, twenty four/seven.

Mais uns meses, quem sabe, e talvez consiga deixar sair todos os monstros e encontrar lá dentro algo remotamente parecido com a imagem que tenho de mim própria. Conseguirei sobreviver-lhe(me)?

06/03/2010

III



Hoje foi o terceiro aniversario da morte dela. Longe de tudo e de todos, sinto o forte impulso de ouvir uma voz familiar que me traga algum conforto. Do outro lado, o total desconhecimento da impotância da data. Do lado de ca, uma certeza se levanta. A de que, por muito que tente fugir e me queira convencer de que pertenço a outro lado que não àquele onde me encontro, pertenço onde estão aqueles que me amam e me fazem sempre querer voltar a casa.

Hei-de sentir sempre a tua falta ;(

01/03/2010


A vida corre-nos por vezes tão bem que quase chegamos a achar que não nos deixaremos mais magoar, que podemos confiar naqueles de mais gostamos, naqueles que nos são mais próximos.


Não podíamos estar mais enganados.


As desilusões fazem e hão-de fazer sempre parte do nosso caminho. Após cada contrariedade, olhamos para dentro de nós e ficamos a pensar onde podíamos ter agido de maneira diferente, em que é que podíamos ter sido melhores. Quer encontremos ou não resposta para isso, o que é certo é que as desilusões têm todas um sabor amargo.



Que todos preferiríamos nunca ter provado.